Ele saiu do carro nervoso e ansioso por água.O dia estava tão quente que a goteira no teto da casa já havia secado por completo.Correu desesperado em busca de um copo.Não tinha nenhum limpo,foi à pia e mesmo sem lavar encheu de água gelada.Bebeu como os bichos bebem.Bebeu loucamente.Três copos em sequência e depois cansou,sentiu-se cheio e foi deitar.Dormiu até as 9 da noite,com o barulho do telefone:
_Alô,é o Bruno?
_Não,ele respondeu.
Não era a primeira vez que ligavam procurando por esse Bruno e,provavelmente,não seria a última tampouco.Sentou-se na poltrona e começou a pensar:"Cadê minha vida?Hoje eu fui no mercado,bebi água e dormi.Como se vive assim?".Coçou a cabeça e ficou pensando no emprego que jogara fora,na namorada que jogara fora,no cachorro que morreu,na avó que morreu,em tudo que tava morrendo,"essa vida mórbida que eu levo".Ele vivia às custas do pai agora,que sempre pergunta sem agressividade:
_Filho,quando você vai voltar na empresa e pedir desculpas ao seu chefe?
_Não sei,pai,ele feriu meu orgulho.
E o pai perguntava isso,dessa maneira,porque sabia que o filho era o único Bacharel em Arquivologia da cidade e aquele escritório era o melhor da cidade.Uma hora ou outra eles voltariam um para o outro,mas Marcelo já não queria trabalhar lá.Tudo parecia tão cansativo.A rotina era pesada e,o pior,Marcelo não se dava bem com ninguém naquele lugar.Todo dia se esforçava para fazer amizades,mesmo que não gostasse da pessoa,e esperava pra ver se aquela relação se tornava algo natural e sincero.Até se tornava,mas nunca para ele.Tudo lá parecia sem graça.Então,cansado de tudo,Marcelo liga para a ex-namorada:
_Oi,é o Marcelo,quer sair?
_Olha,não vai acontecer nada,tá?Eu só vou porque não tenho o que fazer hoje à noite.
E o pior é que foi verdade.A noite foi ótima,eles conversaram até o restaurante,que ficava perto da casa dela,fechar,depois conversaram mais ainda e se despediram com um abraço forte e um beijo carinhoso que só dois amigos podem se dar.Ela parecia feliz,satisfeita com aquilo.Ele não.Quando chegou em casa,começou a socar a cabeça pensando:"Por que você não tentou nada,seu idiota?Vocês ainda se dão bem pra caralho,viu?Seu babaca perdedor".Após essa bela reflexão,com a qual Marcelo se acostumava cada vez mais,foi dormir seu sono de "babaca perdedor".
Um comentário:
Bom, black! Não chame de vulgar, gosto de sua literatura, gosto de sua humildade ao escrever!
Textos sobre miséria humana possuem sempre um sentido de crítica implícito. Creio que eu tenha captado a sua!
beijos, see you.
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