quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Samba e Lápis

Samba e Lápis dão samba?Isso depende das mãos do escritor.No caso desse pseudo-escritor que vos fala,não rolou.Mas mesmo assim,vou postar aqui dois poemas que surgiram de uma brincadeira proposta por mim mesmo e com temas sugeridos por uma amiga:


Samba

Tem algo de diferente no cavaquinho.

Sinto como que uma evocação,
uma obrigação de dançar,
apesar da falta de vocação.

Sinto como se cada dedilhado
no instrumento que chora,
fizesse como mágica,
a minha dor ir embora.

Entendo que o samba
não dura pra sempre.
Mas se durasse,não sei,
sinceramente,
o que seria de mim.

Seria uma felicidade
sem tamanho.

Seria,eu,a felicidade,concretizada,
em forma de ser humano.


Lápis

Sei que não vais me trair,amor.
Sei que quando mais precisar de ti,
serás o primeiro a me salvar.

Serás tu que dissipará meus
piores pesadelos e quem
aliviará as minhas mais
profundas mágoas.

Sei que não quebrarás
a minha confiança,quando a hora
de eu me expressar bater
frente-a-frente comigo.

Amo-te,Lápis,por conceder-me
a paz que preciso quando ninguém
mais aguentaria a minha dor.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Faz tempo que não posto textos de outros escritores mas,dessa vez,se faz necessário abrir exceção.É que quando,em plena madrugada,você é surpreendido por um poema que se assemelha a um murro bem-dado na boca do estômago (metáfora velha,eu sei),no meio da madrugada de uma vida monótona e exatamente na fase em que escrever não faz muito sentido pra você e as palavras que saem de seus textos agora são como aquela camada de gordura do presunto,extremamente superficiais,você se sente na obrigação de postar o tal do poema que fez com que você ficasse com mil dúvidas.

PS.:É madrugada e estou escrevendo no escuro,não reparem se o que vocês acabaram de ler foi bem-escrito.


Enfim,aqui vai o poema:

So You Want Be a Writer (by Charles Bukowski)

if it doesn’t come bursting out of you
in spite of everything,
don’t do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don’t do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don’t do it.
if you’re doing it for money or
fame,
don’t do it.
if you’re doing it because you want
women in your bed,
don’t do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don’t do it.
if it’s hard work just thinking about doing it,
don’t do it.
if you’re trying to write like somebody
else,
forget about it.

if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.

if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you’re not ready.

don’t be like so many writers,
don’t be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don’t be dull and boring and
pretentious, don’t be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don’t add to that.
don’t do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don’t do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don’t do it.

when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.

there is no other way.

and there never was.



terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Xeque-mate

O papel foi abandonado do alto de um prédio.Na cobertura,crianças mimadas e estúpidas brincavam de arremessar coisas e cuspir lá embaixo,na calçada.Mas com o papel foi diferente.Parecia um daqueles exemplos típicos de Queda Livre que a gente vê em Física,no Ensino Médio.A única diferença entre o papel-de-caderno amassado que foi largado pelas mãos de uma criança rica,moradora de uma cobertura em plena Copacabana e os exemplos idiotas da Física Newtoniana foi que a altura final do projétil não foi igual a 0m.Não,o projétil desta vez,preferiu um outro caminho e decidiu parar a 1,55m de altura,nas mãos de um professor de uma escola estadual.Cabe dizer que o professor não era tão baixo assim,é que antes de parar na suas mãos (a 1,55m) tinha batido levemente em sua cabeça.Não,o objetivo da criança não era o de jogar o papel na cabeça do homem que passava.Na verdade,da altura em que o garotinho estava,nem sequer conseguia calcular o tempo certo para atingir os transeuntes.Mas enfim,aconteceu.E aconteceu num péssimo dia.O professor de Física de Ensino Médio de escola estadual estava irritadíssimo por não conseguir fazer com que seus alunos,em maioria pretos,mulatos,pobres,burros e sem qualquer tipo de incentivo financeiro ou didático,entendessem como se calculava a velocidade de um projétil no movimento de Queda Livre.A criança do alto do prédio sempre arremessava ou largava papéis lá de cima e ficava olhando pra ver o que acontecia e,por consequencia disso,o professor viu a sua face vermelha,ingênua e risonha lá de baixo.Irritado,decidiu entrar no prédio e perguntou ao porteiro:
_Teria como fazer uma reclamação?
_Sobre? (perguntou o porteiro)
_Sobre um menino mal-educado que jogou um papel na minha cabeça e estava vindo deste prédio,eu vi.
_O senhor sabe o andar do prédio?
_Era da cobertura,tenho certeza!
_Senhor,é apenas uma brincadeira de criança.Tem um menininho na cobertura e imagino que deve ter sido ele quem jogou,não há por que punir o menino,deixa pra lá.
_Não precisa me chamar de senhor e eu me importo sim!Quero falar com os pais desse "menininho" agora.
_Olha,acho que não precisamos nos exaltar...
_O quê?!O senhor tem noção do que é a educação nesse país?!Compreende que é por causa dessa leviandade é que o país tá assim?Cheio de marginais,putas de 12 anos de idade...
_Senhor,não é necessário erguer a voz aqui.Caso o senhor continue alterado,vou ter de chamar a polícia.
Então,depois de alguns segundos onde o professor procurou se acalmar...
_Tá bom,eu só quero deixar os pais deles cientes do que seu filho vem fazendo.
_Olha,meu senhor,isso eu mesmo faço.
_Qual é o seu problema,hein?!Foi em você que arremessaram uma bolinha de papel em pleno horário-de-almoço de um dia quente e irritante?
_Senhor,vou ser obrigado a chamar a polícia.
_Por favor,eu preciso falar com os responsáveis dessa criança.
"Ah,meu Deus,o Sr. Anselmo não vai gostar nada disso",pensou o porteiro enquanto fazia a ligação pro morador mais poderoso e bem-sucedido do prédio.
_Alô,Sr. Anselmo,tem um senhor aqui embaixo reclamando do seu filho.Ele disse que o menino jogou uma bolinha de papel em sua cabeça.
_Mas como é que o guri jogou propositalmente uma bolinha de papel na cabeça desse cara,estando ele aqui na cobertura?Nem eu conseguiria calcular com tal perfeição...
_Sr. Anselmo,eu já tentei conversar e não resolveu...
_Mas eu me recuso a descer.Manda esse homem subir aqui,então.Mostrarei a ele pessoalmente como é impossível cometer tal ato propositalmente.
E o porteiro,dirigindo-se ao professor:
_O Sr. Anselmo pediu que você subisse.É só pegar o elevador e subir até o 16º andar.
_Obrigado.
O professor que estava extremamente exaltado,subia o prédio rangendo os dentes e querendo socar as paredes naquele dia em que fazia um calor de aproximadamente 37ºC no Rio de Janeiro.
Ao chegar no 16º andar,viu um homem sério e de testa franzida esperando-o na porta do apartamento.O homem que ele via,de repente falou:
_Não tem cabimento a acusação que faz ao meu filho,vou mostrar-lhe o porquê.
E antes que o professor começasse a falar,o homem já havia se direcionado para a parte externa do apartamento.Ao chegar lá,primeiramente o professor sentiu-se meio que nauseado e enquanto retomava seus sentidos,calado,ouvia os argumentos do tal Sr. Anselmo.
_...como acabei de te provar não seria possível acertar alguém daqui,de propósito.Está muito claro que foi acidental.
E retomados os sentidos,começou:
_Pode não ter sido com o intuito de me acertar mas é verdade que o moleque arremessou o papel,o que demonstra falta-de-educação!
O dono do apartamento começou a gargalhar e falou:
_Você acha que o meu filho tem quantos anos?
_Deve ter uns 5,parecia um meninão de onde eu vi.
_Meu filho mal completou 3 anos de idade,como assim isso é falta-de-educação?
O professor já desistia da argumentação e para que houvesse o Xeque-mate na refutação de seus argumentos,apareceu não se sabe de onde o menino.O menino aparentemente assustado com o estranho que estava em sua casa,escondeu-se entre as pernas robustas de seu pai.E o Sr. Anselmo,já triunfante,disse:
_Viu?É esse aqui o ser extremamente mal-educado de que falava?
E riu-se fazendo um gesto que indicava a porta.
O professor saiu cabisbaixo e antes de ter a porta fechada agressivamente em sua cara,limitou-se a dizer:
_Desculpe pelo engano.
Pegou o elevador,extremamente decepcionado e triste com a conclusão das coisas,saiu do prédio sem se dirigir ao porteiro,procurou o boteco mais próximo e comprou a cachaça mais barata que tinha.E bem no meio do expediente.Todas as suas frustrações como professor,agora ex-marido e pai divorciado voltavam à sua mente e foi assim que José Luis Caldas nunca mais parou de beber,tornando-se,em pouco tempo,mais um alcoólatra nesse Rio caótico,quente e insano.

domingo, 13 de dezembro de 2009

À Deriva.

*Resenha boba pra filme incrível,lindo,tudo de bom.


Em quanto tempo abandona-se a inocência da infância?Isso é extremamente relativo,mas a partir do momento em que toda a realidade que nos foi apresentada até então se desmorona antes de construirmos nossa personalidade,e o que é chamado de maturidade,ficamos à deriva e aí dependemos do destino.Pronto,estamos nas mãos do destino.O que fazer agora?Entregar-se a ele?Como?Não sabe-se como.Essa é a dúvida:"Aceitar a realidade ou lutar contra ela mesmo que sem muitas forças?".Talvez essa seja a questão central do filme À Deriva.O filme constrói um amadurecimento forçado e demasiado rápido de uma menina de 14 anos.O principal motivo seria a instabilidade emocional de seus pais(na verdade,da mãe).Num momento da vida em que abre-se espaço para o sexo,as amizades e as descobertas do corpo,no caso da personagem em questão,há a descoberta da traição de seu pai que,na verdade,nem é o culpado pelo desmoronamento do relacionamento entre ele e a mãe da protagonista.Nesse misto de descobertas típicas da idade e o tipo de descobertas que nunca se tem idade,de fato,para se ter,a menina cresce,amadurece e aprende.
Não bastaria essa trama que,a princípio,é extremamente comum,já que lida com separação,traições e adolescência.Para dar um adicional de densidade e carga emocional,há a trilha sonora conduzida e inserida em ótimos momentos para se causar comoção,reflexão e delicadeza.O elenco é bom,natural,espontâneo.Não há espaço aqui para grandes interpretações,há espaço para a interpretação da vida e das coisas que são,por vezes,naturais e,principalmente,dolorosas,em algumas fasesde nossas vidas.Devido a esse clima,o filme parece familiar e acaba por tornar-se relativamente leve e agradável.
Já que o filme se passa nas férias da família em sua casa de praia,a relação com a água é fundamental.O mesmo mar que serve para diversão e paz serve nos momentos difíceis e de desamparo.E há todo um clima praiano no filme que parece querer levar o espectador pra nunca mais voltar.Dá um tom nostálgico da infância e ainda serve para embelezar um drama que não tem nada de bonito,removidos os filtros,a ótima fotografia,a trilha sonora e a maneira como o diretor conduz o filme.No final,eu mesmo fui deixado à deriva,não sei o que pensar da atitude final da protagonista.Fiquei pensativo,distante,reflexivo mas com a certeza de que estive à frente de um filme agradabilíssimo,um dos melhores que vi este ano(se não for o melhor) e fica marcada a qualidade do diretor Heitor Dhalia (de "Nina" e "O Cheiro do Ralo").
Parabéns aos realizadores.Ótimo filme.

sábado, 5 de dezembro de 2009

E vale realmente sangrar
em cima da folha em branco,
do papel virgem,
do A4 ingênuo ou da folha de caderno?

Vale,de fato,jorrar emoção em versos
expor-se,abrir-se todo
e crucificar,punir,maltratar
com tanto sentimento
a folha inocente?

Ela não tem culpa,imagino,
se tanta expressividade,tantas aflições
não cabem dentro da gente
e que se a gente não despejar nossa
matéria mais sincera,íntima e criativa
em suas brutas linhas de celulose,
poderíamos acabar,nós mesmos,
sendo despejados para fora de casa.

Nossa mente iria querer paz
e nós a oferecer somente dor e agonia.
Um dia seria inevitável
que nossa própria mente nos expulsasse de lá.

Por fim,agradeço-te,por tua brancura
que clama por confidências e ardência
transcritas em tinta preta,azul,vermelha,
como quiseres tu,escritor.



OBS.: Não que eu tivesse algo (de interessante) a dizer,como fica claro no texto acima,mas estava com saudade de postar no blog.