domingo, 30 de agosto de 2009

Acabou.

Acho que já chega a hora do fechar dos portões,do cerrar de olhos,da pausa nas respirações,sístoles,diástoles e tudo mais que seja voluntário ou involuntário.Vou-me feliz,porque preciso ir.Não cumpri missão e não cumpriria caso ficasse aqui por mais tempo.As coisas já me irritam mais facilmente,as pessoas começam a desaparecer,cada vez menos tenho ajuda.É um belo desfecho pra algo tão medíocre,confesso.Esse tom dramático de final triste é deveras grandioso pro que foi uma vida de egoísmos e excentricidades.Mas confesso que fiquei um pouco sentido com o fato de não enxergarem como me senti.Sentido por não entenderem que precisava ser egoísta,me conhecer,me estudar,mergulhar em mim mesmo,me aprofundar na ciência do Eu para que,um dia,quem sabe,eu pudesse melhorar minha auto-estima.Eu já não estimo nada aqui.Apenas estimo minha dor,que foi minha companheira nesses últimos dias.E,no final das contas,o amor não existe.Ninguém me amou de verdade.Acho que eu nunca amei ninguém de verdade,também.E,por isso,não houve reciprocidade.Eu agradeço ao Kasabian,ao Cachorr Grande e aos Beatles por esses últimos dias.Agradeço ao meu cachorro,que é sempre menino e levado e pertubado e sempre jovem e eu queria ser como ele.Ele é um exemplo,eu acho.Mais do que esse bando de filhos-da-puta racionais.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sobre um menino de 8 anos

Saí na ponta dos pés,para que ninguém me ouvisse.Abri a porta lenta e cuidadosamente e pronto: estava livre.A rua ficava muito deserta àquela hora da noite.Era estranho alguém tão novo como eu gostar tanto de ir pra rua,mesmo que seja só pra ficar observando o mar.Acho que estar em casa me sufoca.As pessoas em casa me sufocam.Minha irmã me mataria se pudesse,minha mãe me culpa por tudo de ruim que acontece e meu pai só trabalha.Mas quando eu estava na rua...ah,que felicidade!Eu sei que não é normal sair por aí sozinho tão tarde da noite.Sei de tudo de ruim que pode acontecer.Sei que podem me assaltar,me bater e até mesmo me molestar.Mas,às vezes,esse perigo até me atrai.Então é bem simples: pego minha bicicleta,olho o mapa da minha enorme cidade(que,por sinal,só tem 16.000 habitantes) e "pego a estrada"."Hoje vou pra uma praia um pouco mais distante",pensei.E foi isso que fiz.Fui pra uma praia bem pequena mas que ficava linda ao luar.Ao chegar lá,havia um senhor fechando seu quiosque e indo pra casa.Ao ver-me sozinho ali,perguntou:"O que faz aqui a essa hora da noite?Onde estão seus pais?".E eu,já acostumado a ouvir esse tipo de pergunta,respondi tranquilamente:"Em casa.Estavam dormindo quando saí".O velho,que já começava a me cansar perguntou:"E eles não ficariam preocupados em saber que você está aqui?"Respondo:"Ficariam"."Então por que não volta pra casa?Quer uma carona?".Respondi,obviamente que não.Ele continuava lá,olhando pra mim,com pena.Não sei se pena de mim,por achar que eu estava perdido,ou se tinha pena dos meus pais por achar que eles ficariam extremamente preocupados e desesperados ao ver seu pequeno e indefeso filho fora da cama.Eu disse:"Não precisa se preocupar,não é a primeira vez que faço isso".E ele respondeu:"Espero que seja a última,menino.A região já não está tranquila.Ocorrem assaltos a toda hora.Eu mesmo tenho tido medo de sair daqui do quiosque tão tarde."Depois de dito isso,ainda bem,foi embora.Eu já não aguentava mais.Passaram-se uns 10 minutos e agora ventava mais forte.Quanto mais tempo se passava,mais eu ficava fascinado com a beleza do mar.Eu acho que gostaria de ser pescador.Seria bom ter contato com o mar todo dia.E ser marinheiro deve ser chato.Uns 5 minutos depois dessa reflexão,olho pro lado e percebo um casal chegando.Não me notaram,eu acho.Se me notassem,talvez não fizesse diferença também.Eles chegaram num carro preto,bonito,parecia ser bem novo,pois estava limpo demais.E como muitas estradas aqui são de terra,os carros nunca ficam limpos daquele jeito por muito tempo.Ela estava com um vestido bem curto,parecia o que minha mãe usava pra dormir.Ele vestia uma roupa qualquer,não lembro direito qual era.Em pouco tempo,o curto vestido que ela usava,já estava no chão e eu sentia algo estranho.Meu coração batia um pouco mais rápido e tinha outra coisa também que eu não sabia explicar muito bem,dentro da minha calça,era bom,mas eu estava ficando nervoso.E depois o homem começou a fazer umas coisas com ela e ela soltava uns barulhos estranhos,bem agudos.Era bom ver aquilo,ouvir aquilo,imagina sentir aquilo,eu pensava.Meu coração ficava mais acelerado e meu... ah,eu tenho vergonha de falar nisso,parecia estar maior do que geralmente.Eu sentia vontade de colocá-lo pra fora mas eu só conseguia ficar olhando pros dois lá na areia fazendo aquilo.Já estava engolindo em seco,meu coração estava descontrolado,então comecei a correr,peguei minha bicicleta e fui pra casa.Chegando em casa,consegui ir pra cama sem ser percebido.Mas não conseguia tirar aquela imagem da minha cabeça.Eu me sentia nervoso mas de um jeito bom,toda vez que lembrava daquela mulher soltando aqueles barulhos lá na praia.Eu queria ser aquele cara,eu pensava.E aí,fui pro banheiro,intuitivamente e comecei a fazer algo com minhas mãos,não sabia de onde tinha tirado aquela ideia.Só sei que era muito bom.





Obs.:Eu juro que por uma semana,morri de medo e vergonha de postar esse texto.Ele foi uma tentativa de não criar um texto sem dramas tão cotidianos e corriqueiros como os que geralmente exponho nos meus textos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Um pio.

A falta de palavras me tem ocorrido por motivos que sei com exatidão quais são.Eu não esperava que isso fosse acontecer,não mesmo,mas,como já tinha dito anteriormente aqui no blog,pra todo bom momento meu em algum aspecto,há uma queda em algum outro.Então,apesar de me ser extremamente dolorida a falta da capacidade de expressão,algumas outras coisas estão melhores.É estranho,eu já guardo tanta mágoa,tanta dor,decepção,tristeza e sem escrever a bola-de-neve negra de meus sentimentos só aumenta.Não escrever é garganta entalada,é choro preso,é dor interna excessiva.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Eu sempre me senti livre como um pássaro.Que voa infinitamente em direção ao conhecimento e à sabedoria.Mas hoje acordei porco.Descobri-me gordo,morando num lugar do qual não gosto,correndo atrás do lixo,que chamo de "objetivos".Não como o porco do Animals de 77,do Pink Floyd que,assim como os pássaros,fica lá,longe,inalcançável,suspenso.Sou um porco,sujo,feio,escroto,vergonhoso.Somos nós todos.





Eu tenho problemas,
mais ninguém,só eu.

As outras pessoas,
são como a maçã que acabei de cortar:
cheias de pequenas
imperfeições.

Os meus problemas,se tornaram
maiores que eu.

Eu sou um tumor ambulante.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Jovens de classe média ascendentes

A gente ousa
se dizer gente,
dizer que cresceu,
que é maduro.

Consideramos os outros infantis,
somos muito sérios
e dedicados
e almejamos grandes coisas.

Apesar de nossos desejos,
terem tamanho suficiente para
nos sufocar,
a verdade é que somos apenas
grandes merdas.

domingo, 9 de agosto de 2009

"Step Into My Office,Baby"

As horas têm passado leves,faceiras,não me sinto em comunhão comigo mesmo,tenho tratado as coisas com displicência que me é incomum.Eu tenho sido ingênuo,infantil e triste,eu estou lento e sensível.As férias prolongadas não me têm feito bem.É como se tivessem esticando,prolongando e arrastando por toda uma estrada um mal-estar,uma dor-de-barriga,um incômodo extremo.Tenho bebido mais do que gostaria,tenho sido menos eu(o que nem sempre é ruim mas incomoda).



O vinho acabou,
a gente secou,
nossos olhos se desencontram,
após o embaraçar de sentimentos,
de pernas,de amor.

Fica tudo embaçado,
ainda te vejo no espelho,
quando me olho.

Ainda sinto falta de sentir
sua falta,
sabendo que você vai
chegar em casa
em meia-hora.

Ainda morro de inveja,
da tua mãe e do teu pai,
pois eles estarão
sempre ao teu lado,
algo que não consegui.

Mas não consigo erguer-me
desse colchão de merda,
pegar o telefone e dizer:
"Eu quero te ver".

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O longo descanso

Quando o corpo pede
e os olhos cansam,
algo está errado.

Pernas fraquejam,
onde quer que eu vá.
Algo está errado.

Apatia,desencontros,
melancolia.
É hora de descansar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Eu e ela

Saio do vagão à procura dela.Meu amigo disse que me encontraria no banquinho do lado da lixeira laranja.E eu em busca dela.Eu perguntei a ele:"Mas tem só uma lixeira laranja na estação inteira?"E ele disse:"Não,cara,mas na parte em que você vai sair,só vai ter essa,confia em mim".E eu,ligeiramente sonolento,pois ainda era bem cedo,não a encontrava de jeito nenhum.Além disso,estava morrendo de vergonha de perguntar a alguém,pois não é como perguntar sobre algum ponto-de-referência comum ou um ponto turístico.Seria mais ou menos assim:"Senhora,sabe onde fica A Lixeira Laranja?",e ficaria aquele ar de...de quando uma pessoa acha que a outra fez uma pergunta muito idiota e não tem coragem de ser grossa,por não conhecer ou por simples educação.Então,resolvo mudar de foco.Procuro pelo banquinho.Mas o problema é que existem vários banquinhos e nenhum deles parece ter uma lixeira do lado,nem laranja nem de qualquer outra cor.E,então,quando já fico desesperançoso e nervoso também,vejo meu amigo acenando pra mim ao longe.Vou andando na direção dele e pergunto:"Cadê a tal da lixeira laranja?",e ele,com a maior naturalidade:"Ah,sei lá,devem ter tirado".Às vezes,acho que meus amigos não estão muito aí pra mim.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Reações pós-papel

Acabei de escrever um texto à mão.A falta de praticidade fica evidente e agora,por exemplo,percebo minha mente lenta demais para redigir aqui no computador,pois aqui,há a possibilidade de se escrever muito mais em muito menos tempo,pode-se dizer mais coisas,com menos esforço e maior velocidade,o que é ótimo.Sinto-me mal agora por não estar conseguindo raciocinar tão rápido para escrever aqui e por ter mãos nervosas e inábeis,nesse momento,para as teclas.Devido a isso,é até provável que sejam aumentadas as possibilidades de erro(tanto de digitação quanto gramaticais).Os meus manuscritos,por exemplo,possuem um número maior de erros gramaticais.Ah,quão desconfortável me sinto agora.Ruim mesmo.Sentir-se mal como me sinto agora,às 1h20 da madrugada,de mãos atadas.O melhor é relaxar e dormir.Só isso me resta agora(além de um bom copo d'água).




Há poesia demais em mim.
Sinto-me irreal,
digno de histórias em quadrinho
e novelas da Globo.

A minha excessiva poeticidade,
torna-me monstro.
Monstro pela exagerada distinção,
quando em comparação aos outros.

A minha beleza e enorme diferença,
perante todos os outros,
me exclui e torna-me triste.

Canso-me de ser diferente,
renuncio toda essa nobreza
e cubro-me de ordinariedade.

domingo, 2 de agosto de 2009

"Você Pode Ir na Janela"

Eu nunca lembro com amargura das coisas duras.Mas tudo insiste em me agredir,acho que estou me tornando uma pessoa triste,as coisas começam a dar muito errado.Já não faz sol há duas semanas,as pessoas me ignoram,meu carro tá velho e eu estou triste.Eu fui consertar a lâmpada da entrada da garagem ontem e tomei um choque que me deixou desmaiado por meia-hora.No dia seguinte,uns pivetes que passaram na rua jogaram pedra na lâmpada e quebraram-na,destruíndo todo o meu trabalho.Além disso,um dos meus parceiros que era também desenvolvedor em um novo projeto da empresa roubou minha ideia e conseguiu a promoção que eu espero há 2 anos.Também descobri que minha mãe trai o meu pai desde que...desde que...eu me entendo por gente,eu acho.Faz muito tempo mesmo.Pelo que eu vi,eu era pré-adolescente quando tudo começou.Ela só esperou dar tempo pra que eu crescesse o bastante pra ficar em casa sozinho e inventou as desculpas do plantão no serviço,que duraram por quase vinte anos.Com isso,meu pai mora comigo agora e isso diminui minha privacidade,minha liberdade e minha criatividade apesar de amar meu pai(e muito,por sinal).Eu já não sei me adaptar às coisas.Apesar de ter 29 anos,me sinto um velho antiquado e agora,além disso,triste.Antes aconteciam coisas ruins comigo mas como eu nunca dava bola,elas passavam como...como um carro passa,quando você tá no ponto-de-ônibus.Não faziam a menor diferença pra mim,mas de uns tempos pra cá,eu comecei a notar as coisas.Eu estou ficando velho e sensível,antes de todo mundo.O que é péssimo nesse meu universo de agressividade,empreendedorismo e disputa corporativa acentuada.Vejo minha condição exacerbar-se com mãos atadas e cansaço.Muito cansaço mesmo.Pra acabar com isso,resolvi aproveitar minhas férias de meio de ano(1 semana)pra ir com o meu pai pro sítio da minha tia,nem lembrei de chamar minha mãe,que sempre ia com a gente,mas resumindo:foi maravilhoso.Foi a melhor coisa que eu podia ter feito para relaxar.O contato com a terra,com as árvores,com os animais e com a minha tia também(sempre muito preocupada mas de um coração lindo que dá dó).Mesmo assim,quando voltei à cidade,àquela rotina cruel,parecia que nada tinha acontecido.Parecia que eu havia passado uma semana em casa,sem fazer nada.Eu conversava sobre isso com os meus amigos,eles mudavam de assunto,diziam que eu tava ficando chato.E tava mesmo.Eu conversei com meu pai e quando o fiz me perguntei:"Por que não falei com ele antes?".Foi ótimo ter conversado com ele.Foi bonito,esclarecedor,sincero e nos aproximou bastante.Mais do que antes,pelo menos.Mesmo com tudo isso,eu era tomado por uma apatia sem igual,meu rendimento no trabalho caiu,meu chefe me chamou pra conversar e disse que eu devia ir a um psiquiatra,psicólogo,alguma coisa assim.E também alguns "amigos" se afastaram.Eu percebi em pouco tempo,que só conversava com os faxineiros do meu serviço(sobre futebol e essas coisas),com meu pai em casa e com minha mãe pelo telefone.Eu que sempre fui popular,ao invés de tentar mudar a situação,fiquei com vergonha daquilo,fui ficando cada vez mais caseiro e tive o diagnóstico de Depressão,quando fui ao psiquiatra.Só que meu chefe não poderia saber,eu teria algum prejuízo,na certa.Pra disfarçar do pessoal no emprego,não podia levar os remédios de tarja preta e,com isso,minha condição foi se agravando.No penúltimo dia,eu estava no hospital,pois não estava me alimentando corretamente.Aliás,eu (quase) não estava me alimentando.Era um dia bonito,os pássaros cantavam,meu pai estava animado pois havia ido no Karaokê com velhos amigos e tirou 100 em duas músicas,na noite anterior.Era véspera do meu aniversário e minha mãe já havia me ligado,contando todos os planos.Eu só concordava,escroto que sou,que fui.Às 21h30 dessa Quinta-feira,fui sentar na janela do prédio,que dava pra rua.Como sempre,eu era invisível,nenhum transeunte via o maluco que se jogaria do prédio em 20 minutos,mais ou menos.Às 21h51,eu já estava fora de mim.