quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Samba e Lápis

Samba e Lápis dão samba?Isso depende das mãos do escritor.No caso desse pseudo-escritor que vos fala,não rolou.Mas mesmo assim,vou postar aqui dois poemas que surgiram de uma brincadeira proposta por mim mesmo e com temas sugeridos por uma amiga:


Samba

Tem algo de diferente no cavaquinho.

Sinto como que uma evocação,
uma obrigação de dançar,
apesar da falta de vocação.

Sinto como se cada dedilhado
no instrumento que chora,
fizesse como mágica,
a minha dor ir embora.

Entendo que o samba
não dura pra sempre.
Mas se durasse,não sei,
sinceramente,
o que seria de mim.

Seria uma felicidade
sem tamanho.

Seria,eu,a felicidade,concretizada,
em forma de ser humano.


Lápis

Sei que não vais me trair,amor.
Sei que quando mais precisar de ti,
serás o primeiro a me salvar.

Serás tu que dissipará meus
piores pesadelos e quem
aliviará as minhas mais
profundas mágoas.

Sei que não quebrarás
a minha confiança,quando a hora
de eu me expressar bater
frente-a-frente comigo.

Amo-te,Lápis,por conceder-me
a paz que preciso quando ninguém
mais aguentaria a minha dor.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Faz tempo que não posto textos de outros escritores mas,dessa vez,se faz necessário abrir exceção.É que quando,em plena madrugada,você é surpreendido por um poema que se assemelha a um murro bem-dado na boca do estômago (metáfora velha,eu sei),no meio da madrugada de uma vida monótona e exatamente na fase em que escrever não faz muito sentido pra você e as palavras que saem de seus textos agora são como aquela camada de gordura do presunto,extremamente superficiais,você se sente na obrigação de postar o tal do poema que fez com que você ficasse com mil dúvidas.

PS.:É madrugada e estou escrevendo no escuro,não reparem se o que vocês acabaram de ler foi bem-escrito.


Enfim,aqui vai o poema:

So You Want Be a Writer (by Charles Bukowski)

if it doesn’t come bursting out of you
in spite of everything,
don’t do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don’t do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don’t do it.
if you’re doing it for money or
fame,
don’t do it.
if you’re doing it because you want
women in your bed,
don’t do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don’t do it.
if it’s hard work just thinking about doing it,
don’t do it.
if you’re trying to write like somebody
else,
forget about it.

if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.

if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you’re not ready.

don’t be like so many writers,
don’t be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don’t be dull and boring and
pretentious, don’t be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don’t add to that.
don’t do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don’t do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don’t do it.

when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.

there is no other way.

and there never was.



terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Xeque-mate

O papel foi abandonado do alto de um prédio.Na cobertura,crianças mimadas e estúpidas brincavam de arremessar coisas e cuspir lá embaixo,na calçada.Mas com o papel foi diferente.Parecia um daqueles exemplos típicos de Queda Livre que a gente vê em Física,no Ensino Médio.A única diferença entre o papel-de-caderno amassado que foi largado pelas mãos de uma criança rica,moradora de uma cobertura em plena Copacabana e os exemplos idiotas da Física Newtoniana foi que a altura final do projétil não foi igual a 0m.Não,o projétil desta vez,preferiu um outro caminho e decidiu parar a 1,55m de altura,nas mãos de um professor de uma escola estadual.Cabe dizer que o professor não era tão baixo assim,é que antes de parar na suas mãos (a 1,55m) tinha batido levemente em sua cabeça.Não,o objetivo da criança não era o de jogar o papel na cabeça do homem que passava.Na verdade,da altura em que o garotinho estava,nem sequer conseguia calcular o tempo certo para atingir os transeuntes.Mas enfim,aconteceu.E aconteceu num péssimo dia.O professor de Física de Ensino Médio de escola estadual estava irritadíssimo por não conseguir fazer com que seus alunos,em maioria pretos,mulatos,pobres,burros e sem qualquer tipo de incentivo financeiro ou didático,entendessem como se calculava a velocidade de um projétil no movimento de Queda Livre.A criança do alto do prédio sempre arremessava ou largava papéis lá de cima e ficava olhando pra ver o que acontecia e,por consequencia disso,o professor viu a sua face vermelha,ingênua e risonha lá de baixo.Irritado,decidiu entrar no prédio e perguntou ao porteiro:
_Teria como fazer uma reclamação?
_Sobre? (perguntou o porteiro)
_Sobre um menino mal-educado que jogou um papel na minha cabeça e estava vindo deste prédio,eu vi.
_O senhor sabe o andar do prédio?
_Era da cobertura,tenho certeza!
_Senhor,é apenas uma brincadeira de criança.Tem um menininho na cobertura e imagino que deve ter sido ele quem jogou,não há por que punir o menino,deixa pra lá.
_Não precisa me chamar de senhor e eu me importo sim!Quero falar com os pais desse "menininho" agora.
_Olha,acho que não precisamos nos exaltar...
_O quê?!O senhor tem noção do que é a educação nesse país?!Compreende que é por causa dessa leviandade é que o país tá assim?Cheio de marginais,putas de 12 anos de idade...
_Senhor,não é necessário erguer a voz aqui.Caso o senhor continue alterado,vou ter de chamar a polícia.
Então,depois de alguns segundos onde o professor procurou se acalmar...
_Tá bom,eu só quero deixar os pais deles cientes do que seu filho vem fazendo.
_Olha,meu senhor,isso eu mesmo faço.
_Qual é o seu problema,hein?!Foi em você que arremessaram uma bolinha de papel em pleno horário-de-almoço de um dia quente e irritante?
_Senhor,vou ser obrigado a chamar a polícia.
_Por favor,eu preciso falar com os responsáveis dessa criança.
"Ah,meu Deus,o Sr. Anselmo não vai gostar nada disso",pensou o porteiro enquanto fazia a ligação pro morador mais poderoso e bem-sucedido do prédio.
_Alô,Sr. Anselmo,tem um senhor aqui embaixo reclamando do seu filho.Ele disse que o menino jogou uma bolinha de papel em sua cabeça.
_Mas como é que o guri jogou propositalmente uma bolinha de papel na cabeça desse cara,estando ele aqui na cobertura?Nem eu conseguiria calcular com tal perfeição...
_Sr. Anselmo,eu já tentei conversar e não resolveu...
_Mas eu me recuso a descer.Manda esse homem subir aqui,então.Mostrarei a ele pessoalmente como é impossível cometer tal ato propositalmente.
E o porteiro,dirigindo-se ao professor:
_O Sr. Anselmo pediu que você subisse.É só pegar o elevador e subir até o 16º andar.
_Obrigado.
O professor que estava extremamente exaltado,subia o prédio rangendo os dentes e querendo socar as paredes naquele dia em que fazia um calor de aproximadamente 37ºC no Rio de Janeiro.
Ao chegar no 16º andar,viu um homem sério e de testa franzida esperando-o na porta do apartamento.O homem que ele via,de repente falou:
_Não tem cabimento a acusação que faz ao meu filho,vou mostrar-lhe o porquê.
E antes que o professor começasse a falar,o homem já havia se direcionado para a parte externa do apartamento.Ao chegar lá,primeiramente o professor sentiu-se meio que nauseado e enquanto retomava seus sentidos,calado,ouvia os argumentos do tal Sr. Anselmo.
_...como acabei de te provar não seria possível acertar alguém daqui,de propósito.Está muito claro que foi acidental.
E retomados os sentidos,começou:
_Pode não ter sido com o intuito de me acertar mas é verdade que o moleque arremessou o papel,o que demonstra falta-de-educação!
O dono do apartamento começou a gargalhar e falou:
_Você acha que o meu filho tem quantos anos?
_Deve ter uns 5,parecia um meninão de onde eu vi.
_Meu filho mal completou 3 anos de idade,como assim isso é falta-de-educação?
O professor já desistia da argumentação e para que houvesse o Xeque-mate na refutação de seus argumentos,apareceu não se sabe de onde o menino.O menino aparentemente assustado com o estranho que estava em sua casa,escondeu-se entre as pernas robustas de seu pai.E o Sr. Anselmo,já triunfante,disse:
_Viu?É esse aqui o ser extremamente mal-educado de que falava?
E riu-se fazendo um gesto que indicava a porta.
O professor saiu cabisbaixo e antes de ter a porta fechada agressivamente em sua cara,limitou-se a dizer:
_Desculpe pelo engano.
Pegou o elevador,extremamente decepcionado e triste com a conclusão das coisas,saiu do prédio sem se dirigir ao porteiro,procurou o boteco mais próximo e comprou a cachaça mais barata que tinha.E bem no meio do expediente.Todas as suas frustrações como professor,agora ex-marido e pai divorciado voltavam à sua mente e foi assim que José Luis Caldas nunca mais parou de beber,tornando-se,em pouco tempo,mais um alcoólatra nesse Rio caótico,quente e insano.

domingo, 13 de dezembro de 2009

À Deriva.

*Resenha boba pra filme incrível,lindo,tudo de bom.


Em quanto tempo abandona-se a inocência da infância?Isso é extremamente relativo,mas a partir do momento em que toda a realidade que nos foi apresentada até então se desmorona antes de construirmos nossa personalidade,e o que é chamado de maturidade,ficamos à deriva e aí dependemos do destino.Pronto,estamos nas mãos do destino.O que fazer agora?Entregar-se a ele?Como?Não sabe-se como.Essa é a dúvida:"Aceitar a realidade ou lutar contra ela mesmo que sem muitas forças?".Talvez essa seja a questão central do filme À Deriva.O filme constrói um amadurecimento forçado e demasiado rápido de uma menina de 14 anos.O principal motivo seria a instabilidade emocional de seus pais(na verdade,da mãe).Num momento da vida em que abre-se espaço para o sexo,as amizades e as descobertas do corpo,no caso da personagem em questão,há a descoberta da traição de seu pai que,na verdade,nem é o culpado pelo desmoronamento do relacionamento entre ele e a mãe da protagonista.Nesse misto de descobertas típicas da idade e o tipo de descobertas que nunca se tem idade,de fato,para se ter,a menina cresce,amadurece e aprende.
Não bastaria essa trama que,a princípio,é extremamente comum,já que lida com separação,traições e adolescência.Para dar um adicional de densidade e carga emocional,há a trilha sonora conduzida e inserida em ótimos momentos para se causar comoção,reflexão e delicadeza.O elenco é bom,natural,espontâneo.Não há espaço aqui para grandes interpretações,há espaço para a interpretação da vida e das coisas que são,por vezes,naturais e,principalmente,dolorosas,em algumas fasesde nossas vidas.Devido a esse clima,o filme parece familiar e acaba por tornar-se relativamente leve e agradável.
Já que o filme se passa nas férias da família em sua casa de praia,a relação com a água é fundamental.O mesmo mar que serve para diversão e paz serve nos momentos difíceis e de desamparo.E há todo um clima praiano no filme que parece querer levar o espectador pra nunca mais voltar.Dá um tom nostálgico da infância e ainda serve para embelezar um drama que não tem nada de bonito,removidos os filtros,a ótima fotografia,a trilha sonora e a maneira como o diretor conduz o filme.No final,eu mesmo fui deixado à deriva,não sei o que pensar da atitude final da protagonista.Fiquei pensativo,distante,reflexivo mas com a certeza de que estive à frente de um filme agradabilíssimo,um dos melhores que vi este ano(se não for o melhor) e fica marcada a qualidade do diretor Heitor Dhalia (de "Nina" e "O Cheiro do Ralo").
Parabéns aos realizadores.Ótimo filme.

sábado, 5 de dezembro de 2009

E vale realmente sangrar
em cima da folha em branco,
do papel virgem,
do A4 ingênuo ou da folha de caderno?

Vale,de fato,jorrar emoção em versos
expor-se,abrir-se todo
e crucificar,punir,maltratar
com tanto sentimento
a folha inocente?

Ela não tem culpa,imagino,
se tanta expressividade,tantas aflições
não cabem dentro da gente
e que se a gente não despejar nossa
matéria mais sincera,íntima e criativa
em suas brutas linhas de celulose,
poderíamos acabar,nós mesmos,
sendo despejados para fora de casa.

Nossa mente iria querer paz
e nós a oferecer somente dor e agonia.
Um dia seria inevitável
que nossa própria mente nos expulsasse de lá.

Por fim,agradeço-te,por tua brancura
que clama por confidências e ardência
transcritas em tinta preta,azul,vermelha,
como quiseres tu,escritor.



OBS.: Não que eu tivesse algo (de interessante) a dizer,como fica claro no texto acima,mas estava com saudade de postar no blog.

sábado, 28 de novembro de 2009

eu quero.

começo a me irritar
com os cheiros que ficam
impregnados em mim.

por todo lugar que passo,
de todo mundo que eu vejo,
eu guardo alguma coisa.

é o ápice da empatia,imagino.
eu não consigo deixar de ser o outro,
todos eles grudam em mim
pra nunca mais.

e de tanto ser hibrido,inoriginal,
em vez do vulgar,acabo por me tornar
meio que eu mesmo,
fico Único,mesmo que sem perceber.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pode ser.

Eu já posso deixar de sentir as emoções que tenho sentido e parar de ver a beleza onde tenho costumado ver.É possível que tudo deixe de ser comum,são novos ares para a mente e novos rumos para o coração.A Paixão Segundo GH me foi demasiado denso e arrastado,apesar da excitação toda no final e dos incríveis mergulhos no que é o "ser",de fato.Agora o que há é um Goethe,um belo prato,imagino.Receio apenas quais serão os efeitos.Temo a minha impopularidade(social,obviamente) devido à falta de atualidade vocabular do livro e das temáticas que se remetem claramente a tempos,ainda que tão próximos(final do século XVIII/início do século XIX),tão distantes.As paisagens são mais belas,a literatura tem uma paixão que me lembra Shakespeare(mesmo sem nunca ter lido),que me lembra algo do Dorian Gray de Oscar Wilde e não o tipo de escrita que tanto prezo,um tipo mais atual,moderno,urbano mesmo,como em Kafka e Tolstoi.
Mas então,eu li G.H.(da Clarice,óbvio) buscando aquela Clarice de contos como Felicidade Clandestina,Uma Esperança e do romance A Hora da Estrela.O que encontrei foi uma Clarice que penetra muito mais profundamente "na natureza selvagem",nas profundezas imagináveis e inimagináveis do que é o "ser".Eu tenho a impressão de que a literatura tardia,madura da Clarice é mais do meu agrado,porque explora o ser mas sem tanta intensidade.Eu realmente quero descansar dessa intensidade por agora e é por isso que "Perto do Coração Selvagem" vai ficar pra depois.Pra depois de quê?Pra depois de Goethe e seu "Os Sofrimentos do jovem Werther".Sem mais.

domingo, 22 de novembro de 2009

Querendo acreditar.

Eu te fiz um texto ontem à noite.Tinha barquinho navegando no mar,som de ondas batendo e cheiro de chuva que se aproxima.Só que a chuva foi forte demais e,insensatamente,rasguei o texto,com medo de te ver naufragar.Eu fiquei com tanto medo de te perder,que fingi que te dava a mão e você deitava no meu peito,relaxada e tranquila.Foi uma das noites mais difíceis dos últimos 10 dias,minha recuperação se dá lentamente.Só vai ter recuperação plena quando você voltar.Quando é que você vai passar aqui mesmo?Porque eu queria que você comesse o bolo que minha mãe fez,eu sei que você adora o bolo de côco dela.E,mais do que isso,queria sentir seu cheiro,suas mãos suaves,macias,como pétalas tão delicadas,tão delicadas.Tocar o seu rosto e ver nos seus olhos o brilho que se tem somente na juventude,que me foi roubada,em parte,quando você se foi.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cansaço

Quem ganha com o meu sofrer?
Quem se diverte se eu chorar?
Que gênio maligno se empenha tanto
em me descontruir e,aos poucos,me matar?

Que dor é essa que eu sinto,
sem explicação ou sentido,
mas que é constante e presente
a todo momento.

A quem interessa ver tanto sofrimento?
Que tipo de vitória é essa?
Não sei.Só sei que sempre saio perdendo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Técnico.

Eu vejo bruxas sobrevoando
os muros da minha escola
toda manhã.

Eu imagino espíritos loucos,
desvairados,insanos e escandalosos
presos nas paredes deste lugar.

As paredes são brancas,por serem lavadas
por lágrimas dos alunos,que insistem
em chorar por notas baixas.

Eu vejo mais do que tudo isso,
um abismo muito grande neste lugar.

É um recanto do desespero,
um monte de doidos querendo
se superar mas,no final,
acabam saindo mais vazios
do que quando entraram.

Eu sinto esse abismo me atraindo,
a ambição dos possíveis sucessos
profissionais e financeiros.

Eles nos impulsionam a tudo isso,e eu
vejo o abismo se abrir em mim,por fim.
Já não há mais volta.


OBS.:Não sei ao certo mas creio que o texto resuma um pouco (ou muito) o porquê da falta de textos no blog.Devo ficar uns dias fora daqui,como já tenho ficado.
Não há muito para se dizer.O mundo desaba à minha volta e eu não tenho o que dizer sobre isso.Simples.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ego(mentiras)

Brincar de se conectar com o mundo em sintonias diferentes das já testadas por você nas diversas fases da sua vida sem questionar qualquer tipo de imprevisto que possa decorrer disto.E almejar sonhos nunca dantes sonhados com pessoas diferentes das já imaginadas em outros momentos de sua existência.E cantar canções dos canários,pintaroxos,melros,sanhaços,rolinhas,uirapurus e bem-te-vis.Saber distinguir as cores com as quais se deve colorir sua vida,quero dizer,lembrar que a vida pode ser pintada com cores que não cinza,preto,azul-marinho,verde-oliva e branco.Há de haver amarelo,vermelho,verde-limão,abraços,sorrisos e carinhos.Há de se ter paciência consigo mesmo porque para com os outros é fácil.É hora de aprender que você não é menor que ninguém e tem muito de bom a apresentar pro mundo.Lembrar que você não vai perder tudo que você conquistou até agora de uma hora para outra então,deve-se conceder mais liberdade a si mesmo.Abusar das pessoas que eu amo e que me amam,sem vergonha alguma,ou com algum tipo de medo de super-exposição(afinal vou contar segredos pra quem?).Lembrar que você não é igual aos outros e que ninguém nunca vai entender quão verdadeira pode ser essa frase.Manter em mente que nem sempre o que é estranho é ruim.Logo,eu sou estranho mas não sou ruim.Eu sou uma pessoa muito boa,não causo problemas a ninguém(só a mim mesmo,óbvio) e posso ser carinhoso.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sunday Morning

Esmague com os dedos (indicador e polegar,preferencialmente) o primeiro carrapato que encontrar.Depois de fazê-lo,deguste lentamente o sangue que agora jaz em seu dedo.Pense:"este é o sangue do meu amado cachorro,que esse carrapato sugou".Sinta o ódio crescendo em você e perceba que,agora,você é 1/4 carrapato e 3/4 humano,já que acabou ingerindo também o sangue do seu cachorro.Sinta ódio do carrapato,que faz seu cachorro sofrer e,além disso,sinta ódio de si mesmo por realizar tal ato.Você agora se igualou ao carrapato.Vocês são sugadores escrotos.Perceba o ódio nascendo em você.Espere alguns minutos e perceba que você está adentrando o selvagem do selvagem,a essência,a natureza.Você faz parte dessa natureza parasitária agora.Você já não vê mais as coisas como antes,agora são olhos de carrapato,fome de carrapato,instinto de carrapato e corpo de gente.Pronto,agora sinta-se livre para começar o seu domingo.

domingo, 1 de novembro de 2009

Ladies and gentlemen

Eu não tenho muito mais a dizer.Meus textos falam sobre o meu mundo,basicamente.Seria difícil sair dele,ele está impregnado em mim.Eu sou ele e ele é eu.Eu tenho vontade,sim,de ir além do conhecido por mim,de explorar outras coisas,mas sempre fica um tom de falta de originalidade,fica piegas,mal-escrito,enfim: desastre.É por isso que fica esse tom de falta de novidade no blog.Meu blog é monótono e quase monocromático.Não coloco foto nos posts,não coloco cores mais atrativas,o foco é o texto e só ele,o que é chato no final das contas.Mas essa é a minha essência: monotonia e obviedade.
Ah,descobri essa semana que tenho uns distúrbios de personalidade gravíssimos,não devo durar muito.Mas é aquilo: acredita que tudo passa que você adia o sofrimento.Essa é a minha filosofia.Vou descobrindo quão monstro e estranho sou e fico rindo do meu distanciamento de todos.Mas é engraçado mesmo,não é?Não é?

Uma coisinha que escrevi aí:


Do mundo que conheço
todas as dores são vãs
e todas as felicidades também.

Escrevo poemas querendo
dissipar todas as dores
e querendo descrever todas as
felicidades,
que enxergo no passar dos anos,
no passar dos rostos,
no passar da vida.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Day In The Life

Foi comprar flores sem saber quais seriam as cores exatamente.E ela sempre sabia de antemão quais flores iria comprar.Era um passo no imprevisível,o que sempre lhe parecia incômodo.Mas dessa vez parecia ser...bom.Tão bom que mesmo antes de chegar à floricultura já sentia o cheiro do frescor das flores que compraria.Era uma atividade frequente.Todo mês ela comprava flores diferentes.Quase todas morriam em um curto espaço de tempo mas,ainda assim,ela sempre comprava mais e mais flores.Para uma vida sem cor,sem a leveza e sem frescor,ela precisava usar flores para ilumina-la.Já se tornara uma obssessão.Então,ao sair de casa imaginando os múltiplos aromas possíveis,as mil cores imagináveis e as centenas de modelos de flores possíveis,foi em direção à Rua 9,onde ficava a floricultura que mais a agradava.Ela conhecia o dono desde pequena, quando sua mãe,outra aficcionada por flores,comprava Tulipas e Jasmins regularmente.Do gosto da mãe em relação às flores,ela manteve o amor por Tulipas.Talvez essa tenha sido a única coisa que ela herdou da mãe.Elas não eram parecidas fisicamente e também tinham personalidades bem díspares.
Chegando à rua 9,ela percebia sua ansiedade aumentar absurdamente a ponto de seu coração bater mais forte."Mas são só flores",ela pensava."Como pode a possibilidade de comprar flores sem saber suas cores antes deixar-me tão ansiosa e comovida?".Não sabia ela que sua fragilidade emocional era similar à fragilidade e delicadeza de uma flor.Ela não sabia ainda,ninguém nunca havia lhe contado.Das pessoas que poderiam ter contado para ela(por lhe serem próximas),duas morreram.Uma dessas pessoas foi seu maior amor durante a vida.A outra foi a sua maior amizade durante a vida.Na verdade,eram a mesma pessoa em uma só.Quando havia paixão e calor,havia beijos.Ao cansar-se da paixão,amadureceram e do amadurecimento surgiu bela amizade.Ambos se confessavam ante o outro.Eram psicólogos mútuos e isso fazia falta a ela.Agora só as flores lhe sabem os segredos mais íntimos.
No último paralelepípedo antes da calçada da loja de flores,ela parou,virou-se e olhou."Floricultura",estava escrito.E com um sorriso de quem sabe que vai ser feliz,ela limpou os sapatos no tapete e entrou.Ao entrar encontrou Bernardo,filho do dono.
_Como vai,Bernardo?
_Bem,senhora.Chegaram novas tulipas hoje.Inclusive aquela vermelha que a senhora encomendou.
_Ah,não acredito!
Ao perceber o entusiasmo da cliente,Bernardo foi prontamente buscar as Tulipas,enquanto ela observava e pegava um buquê de rosas,também vermelhas(o que ela sabia ser clichê mas adorava,não fazia diferença para ela).
_Aqui estão,senhora!
_Ah,mas que beleza.Elas têm uma coloração ainda mais viva do que tinha em mente.Lindas,lindas.Muito obrigada.Como vai seu pai?
_Muito bem.Ele deve chegar mais tarde.Foi levar minha mãe à casa da minha tia,irmã dela.
_Ah,então,assim está bom.Até a próxima,Bernardo.
_Até!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma grossa

A suavidade,
inerente a todos,
esqueceu-se de atingi-la.

A generosidade,
que a todos agrada,
nunca fez parte de seus planos.

A caridade,
admirada por todo mundo,
significa nada pra ela.

Em sua falta de delicadeza,*
ela se admite bruta,
sem vergonha alguma.

E acha engraçado
as outras meninas usarem
rosa e comprar enormes(e caros)
bichinhos de pelúcia.





OBS.:
*.Variantes : Em sua ignorância

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Executivo mimado

"Porra,amor,minha vida é vácuo,sabe?VÁCUO!" E ela disse,em resposta:"Eu nunca entendo essas suas metáforas.Explica como funciona essa nova." Respondo:"Amor,minha vida é falta.Eu não tenho dinheiro,tempo ou idade pra fazer as coisas que tenho vontade.Eu vejo o mundo morrer à minha volta,porque não consigo fazer nada que quero.Estou estagnado,podre,amaldiçoado pra sempre." E ela:"Ah,vai te foder,seu pessimista de merda.Tem mundo lá fora,tem eu aqui.Você me come 4 vezes por semana,a gente ri pra caramba,vê os filmes mais legais do mundo,temos os amigos mais legais do mundo e você quer reclamar?"Minha resposta:"Esse é o problema,querida.Tudo de bom que eu faço parece apenas uma prévia do que há de melhor.Nada de bom que eu faço,sacia o meu vazio.Falta um têmpero a mais,talvez um gergelim ou uma pimenta mais picante" Já cansada das reclamações:"Sabe de uma coisa?Vem cá que eu resolvo seu problema." E eu,indefeso,entrego-me mais uma vez aos braços daquela que amo.Eu a amo,ela é linda,gostosa,só me faz mal,eu acho.Ela crê que todos os problemas do mundo se resolvem com risada e sexo.Óbvio,os dois são ótimos,só que,acreditem,cansam.Quando na sua vida só há risada e sexo,eles se tornam óbvios e cansativos,aí você começa a fazer merda.Eu (a gente) já tentei de tudo.Sexo grupal para melhorar o sexo e comédia russa,indiana,escandinava para mudar as risadas.Funciona durante 5 anos.Depois sobra o vácuo,o vazio.Quando sua mãe descobre o que você e sua mulher têm feito,você,como uma criança que fez merda,se sente um vadio,devasso,nojento e aí vem a constatação do desespero em que você se encontra.Seu rendimento no emprego piora,sua aparência piora,o sexo piora,as risadas somem.Aí você passa mais tempo com os seus amigos,bebendo mais cerveja,jogando futebol,sua mulher diz que você tá distante e seu casamento que primeiro era lindo,apaixonado e que depois virou devasso e vadio,acaba entrando em crise.E como apimentar a relação se a gente já experimentou de tudo?Não sei.Na verdade,só me falta tempo,às vezes,mas eu tenho,sem dúvida,idade e dinheiro pra fazer o que me der na cabeça.Só que com toda essa loucura,eu esqueço que minha vida é ótima,que minha mulher(que adora sexo) poderia ser como a maioria,que prefere fazer esporadicamente e não de maneira tão selvagem,e que meu emprego me paga muito bem pra eu trabalhar pouco.Eu sou um mimado,essa é verdade.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Para dias melhores

Vou catar a esperança
em cada pedrinha
que eu encontrar.

Neste córrego de rio,
ou nas conchinhas
que eu pego no mar.

Vou ver flores,
quando houver miséria.

E vou sorrir,
nas horas de melancolia.

Dá tempo de aprender,eu sei.
É só praticar todo dia.

sábado, 10 de outubro de 2009

Reflexões tardias

Assim como o cigarro que queima entre meus dedos neste momento,estou aceso.Aceso como as luzes cintilantes desta cidade doida,desvairada e perdida.Aqui é lugar de ninguém.É estupro,bala perdida e o que mais tiver de ruim,a gente inclui.Acho que todos os lugares estão ficando assim,na verdade.Mas há aqui um pioneirismo admirável.Às 2 da manhã encontro-me fumando e admirando os carros e as luzes e as cores desta cidade que nunca pára.Aqui da Zona Sul tudo é fácil.É fácil olhar o Morro Dois Irmãos e falar como ele é lindo.É fácil olhar para os carros lá embaixo e brincar de adivinhar a vida das pessoas que estão lá dentro.Essa facilidade já me enojou muito durante a adolescência.Agora não.Agora gosto disso.Agora sei que é um privilégio.Sei que quando se nasce na Baixada ou,principalmente,dentro da favela,é difícil falar que um morro como o Dois Irmãos é bonito,porque provavelmente você conhece alguém que já teve contato com o mundo do crime.Em Ipanema,o assalto na entrada do seu prédio pode virar filme(de "ficção"),documentário,crônica,pode virar um conto.As pessoas de classe média alta são muito criativas pelo que parece.Sob a lente delas,tudo vira arte.O pretinho fodido pivete pode ser o personagem de uma bela história de amor.Tudo é possível.E é isso que me assusta,às vezes.Essa facilidade para se enxergar tudo com outra lente.Sim,é uma ótima coisa a se fazer.Fazendo isso,fica mais difícil de se apavorar tanto com tanta atrocidade mas ainda assim acho complicado isso de enxergar marginalidade sob um ponto-de-vista artístico.É abstração demais pra mim,às vezes.Depois de tanto pensar,o dia nasce,a carteira de cigarros acaba e é hora de trabalhar.Foi mais uma noite em claro.Mais uma!O que está acontecendo comigo?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

This Mess We're In

Acho que tenho algumas coisas a dizer,só me faltam as palavras,o jeito,a ordem e o porquê.Acho que principalmente o porquê.Não há motivo para eu escrever as coisas que venho escrevendo.É tudo tão repetitivo e íntimo,acho chato.Minha criatividade parece ter ficado num passado bem recente.Apesar de ser recente,não consigo sequer tangenciar a criatividade de outros dias.Eu acho que tenho a opção de ignorar essa história toda de criatividade e postar qualquer coisa que eu escrever aqui.Afinal,o blog é meu!Ele pode ser chato,enjoado,repetitivo mas é meu,então não deixa de ser pertinente só ficar falando de mim.Eu poderia falar que tenho escutado Faith No More e o Stories From The City,Stories From The Sea,da P.J. Harvey .Poderia falar do tamanho do meu desamparo,que é absurdo(constatei isso um dia desses,de madrugada,indo dormir),enorme mesmo.Eu poderia falar também que Dress Rehearsal Rag do Leonard Cohen é foda e que o clipe do desenhinho do Black Drawing Chalks é beeem legal e lembra bastante o clipe de Go With The Flow do meu querido,adorado,e sumido também,Queens Of The Stone Age.Cabe falar que ingerir baratas pode mudar sua personalidade,cabe falar da ignorância e alienação(pelo menos,cultural) dos meus colegas de escola.Cabe falar que não tenho comprado a Piauí,que estou com medo de ler a Veja(porque esqueci como se ignora o fato de que nem tudo que há lá é muito confiável,inclusive falam que é o oposto),que não comprei a Vida Simples e que minha vida não é nada simples.Descobri que já foi,mas isso faz tempo.Eu poderia falar que o meu MP3 fajuto tá quase indo embora,porque entrou água no coitado.Poderia dizer também que ouvir música no ônibus com fone-de-ouvido que não é Fonete(ou In-ear,como se chama,de fato)é bem desconfortável.Eu poderia falar que tenho escutado além de Portishead,Faith No More,P.J. Harvey,Leonard Cohen e Blur,estou escutando(pelo som baixinho,baixinho do celular) os singles novos do Black Eyed Peas,tenho escutado Britney Spears e Mariah Carey e Lady Gaga e essas coisas aí que o público ama e a crítica deve ter nojo.Mas eu gosto de Pop.Gosto sim.Não de ouvir no meu quarto,na minha aparelhagenzinha de som da Creative mas de ver clipes,ouvir na escola,enfim.Eu poderia estar ouvindo Novos Baianos,Chico Buarque,Caetano Veloso e outros mas não tenho tido coragem nem vontade.Quero ouvir Sigur Rós também mas me falta coragem,porque Sigur Rós é lindo e me leva pra uma esfera bela,calma e tudo passa a me dar sono.Termino este post bobo ouvindo This Mess We're In,participação do Radiohead(ou talvez só do Thom Yorke,não sei ao certo) no cd mais cultuado,bonitinho e tudo mais da maravilhosa,britânica,bocuda e magra P.J. Harvey (que apareceu umas três vezes neste post,contem caso haja paciência).

domingo, 4 de outubro de 2009

Back To Black

Pronto.Tava demorando,eu acho.Minha vida desandou,novamente.Perdi os trilhos de um trem que eu dominava tão bem há pouco.Já perdi livro,estojo,carteira da biblioteca,minha cabeça anda em outras esferas.Fodeu mesmo,não sei o que fazer.Sempre que não consigo mais estudar,entro em crise profunda e em uma velocidade que nem trem-bala consegue.Talvez nem um avião supersônico conseguisse fazer o que eu faço.Por não conseguir estudar,estou sempre preocupado,infeliz,melancólico,deprimido,cansado,irritado,triste mesmo.E com isso,não consigo relaxar nunca,não consigo me divertir direito e,com isso,me afasto mais ainda de conseguir estudar,porque quando a semana começa,já estou exausto,desgastado e relutante em voltar àquela rotina que tanto me atordoa.Eu acho que odeio cada pedaço de mim.Quando me criaram,pegaram uma série de falhas que uma pessoa pode ter e concatenaram no que me tornei.Virtudes,as tenho em cheio também,mas quem se interessa nisso hoje em dia?As pessoas são frias,insensíveis por aqui,então,do que adianta ser cheio de virtudes,se o que as pessoas mais gostam é do contrário.Quanto menos virtudes você tiver,mais popular você será,não é assim?Eu fico puto com isso.O quanto as pessoas deixam de enxergar valores que deveriam ser tão importantes.Minha nova escola não é legal,meus novos colegas são legais mas vazios.Resumindo,mais uma vez,me fodi.Mais uma vez,fiz escolhas erradas,que não tinham a ver comigo.Talvez eu me acostume um dia como me acostumei à minha antiga escola(porque a odiava também no início),mas o caminho até a minha aceitação é longo,estridente,doloroso,tortuoso e triste,sempre triste.A tristeza permeia a minha vida,sempre.Minha única companheira.Desde o começo(,até o fim?).

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Bestas de castigo

Das assombrações que vejo,nenhuma me pertence.No meu universo,nada pertence ao meu mundo.Daí que estou sempre deslocado e desvairado com tudo.As bestas azuis que riem da minha patética rotina,acham graça do meu esforço em tentar ser normal.Eu,mesmo com medo de tais criaturas,rio com elas,enquanto tomamos rum imaginário e jogamos pôquer.Meu maior medo é de que um dia,essas bestas,saiam do meu quarto e me persigam por todos os cantos,pra todos os lados que eu vá.Vou ser chamado de doudo,insano,por ver demônios,em todos os lugares.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Medo do esquecimento

Eu acho que a gente tá perdendo tempo com tanta coisa inútil.Eu acho que falta sentimento e emoção em tudo que a gente faz.Falta alegria e amor nos nossos caminhos.Falta compreensão e paz,de quem nos rodeia.Aí,sobra a solidão e uma angústia do tamanho da BR-101.Às vezes,a gente chora e quer que nos ouçam,em outras a gente grita e espera que todos se calem ,somente.Por vezes,quero subir num palco,transformar minha vida em peça e esperar que todos assistam e aplaudam,emocionados,no final.Sabe o que é isso?Carência.Isso é excessivo anseio por atenção por parte dos outros.Eu quero atenção,eu quero que os holofotes estejam em mim,mas não a ponto de me constranger,não quero ser celebridade ou coisa do tipo.Eu só quero ser importante para quem me conhece,conheceu ou ainda vai conhecer.Eu quero tirar da minha mente,essa impressão de que todo mundo vai esquecer de mim,dentro de um certo espaço de tempo.A de que eu vou servir,simplesmente,para ilustrar um passado muito distante de muitas pessoas.Vou ficar que nem aquele livro que fica no final da prateleira na última estante do porão,cheio de poeira e cheio de...esquecimento.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Amigo

"Acabou o chá,cara",eu disse."Puta que pariu,logo o meu chá de frutas silvestres?",ele respondeu.Aí,a gente ficou com cara de idiota.Dois marmanjos numa cozinha,perplexos frente à falta de "chá de frutas silvestres"."Será que a gente tá virando viado?",pensei.E mesmo sem eu ter dito nada,ele olhou pra minha cara como se tivesse lido minha reflexão e numa expressão fulminante,ele parecia dizer:"Claro que não."E se virou para o outro armário,pegando o filtro pra fazer café."Essa cafeteira também é uma merda,né?"E eu retruquei:"Não,só faz café um pouco fraco,o que nem sempre é ruim.Nem todo café é o Expresso da Starbucks,cara.Aceite isso".Nós éramos amigos desde a pré-adolescência e acontece que agora estávamos ambos na mesma universidade,no mesmo Campus e decidimos morar juntos,porque morávamos longe da universidade.O problema é que a nossa amizade ia se esvaindo aos poucos.Já não concordávamos mais em quase nada,diferente de antes,não saíamos com as mesmas pessoas,nem pras mesmas festas e irritávamo-nos mutuamente com as excentricidades do outro.Tava ficando cansativo demais."Cara,vamos dar um tempo?Quer dizer,ficou estranho isso,é...tipo,a gente fica um tempo morando separados até a gente voltar a se dar bem.Que tal?"Aí ele ficou num silêncio,que durou uns 30 segundos ou mais e perguntou:"Tá,mas pra onde eu vou?"."Ah,aluga algo aqui perto"."Mas é muito caro e a gente tá morando junto também pra aliviar o preço do aluguel"."Então tá,a gente empurra com a barriga até onde der,então"."Por mim..."E ficou por isso mesmo.E voltando ao dilema anterior,como se nada tivesse acontecido,ele disse:"Já que falou na Starbucks,eu dou um pulo no Shopping e passo lá pra fazer um lanche também,vamos?"."Claro,eu disse".Acho que vamos voltar a ser amigos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sobre a falta da falta de todos

Eu hoje acordei de súbito.Suado,corado,assutado.Sonhei com a morte de todo mundo que eu conhecia,de todos que penso admirar e amar e o pior de tudo: não senti falta de ninguém.Ficou evidenciado o meu isolamento mental e a minha indiferença para com tudo e,principalmente,todos à minha volta.No sonho,sentia saudade de muitas dessas pessoas.Uma saudade grande mesmo.Mas percebi que a saudade já me é um sentimento comum,fácil de ser driblado e aceito.Imerso em solidão,descobri-me inclusive mais forte,mais livre e mais feliz.Eu poderia ser o que quisesse ser,não teria obrigação de parecer "isso ou aquilo" para ninguém.A sensação de liberdade me deu um ânimo incrível.Sentia uma felicidade indescritível e toda a minha vida se passou assim:sem os que eu conhecera um dia e sem fazer questão de criar grandes laços com novas pessoas.E,na hora em que eu ia morrer,acordei de súbito.Suado,corado,assustado.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Para Luísa

Aquele vaso de plantas...e o copo de Coca-Cola que ficou em cima da pia...e você foi embora naquele dia.Sinto saudades,sei.Gostava do jeito como você fazia massagem e de quando você tentava me convencer que Bowie era o cada mais fodão que já existiu.Depois que você foi embora,até a Lily,nossa gatinha,morreu.Encontrei-a moribunda perto da caixinha de areia.As plantas murcharam porque eu sempre esqueço de regar.Este lugar perdeu a vida,parou de fazer sol e agora só chove,que nem naquele livro do García Marquez que você me emprestou.Agora vou ao teatro sozinho e já não tem graça.Agora,só leio best-sellers escrotos e repetitivos,pra ter sobre o que conversar com as outras pessoas,porque quando você tava aqui eu não precisava de mais ninguém,você sabe.Aceita esta carta,pára de ser babaca e volta pra casa,que tem um amigo que precisa de você!

domingo, 30 de agosto de 2009

Acabou.

Acho que já chega a hora do fechar dos portões,do cerrar de olhos,da pausa nas respirações,sístoles,diástoles e tudo mais que seja voluntário ou involuntário.Vou-me feliz,porque preciso ir.Não cumpri missão e não cumpriria caso ficasse aqui por mais tempo.As coisas já me irritam mais facilmente,as pessoas começam a desaparecer,cada vez menos tenho ajuda.É um belo desfecho pra algo tão medíocre,confesso.Esse tom dramático de final triste é deveras grandioso pro que foi uma vida de egoísmos e excentricidades.Mas confesso que fiquei um pouco sentido com o fato de não enxergarem como me senti.Sentido por não entenderem que precisava ser egoísta,me conhecer,me estudar,mergulhar em mim mesmo,me aprofundar na ciência do Eu para que,um dia,quem sabe,eu pudesse melhorar minha auto-estima.Eu já não estimo nada aqui.Apenas estimo minha dor,que foi minha companheira nesses últimos dias.E,no final das contas,o amor não existe.Ninguém me amou de verdade.Acho que eu nunca amei ninguém de verdade,também.E,por isso,não houve reciprocidade.Eu agradeço ao Kasabian,ao Cachorr Grande e aos Beatles por esses últimos dias.Agradeço ao meu cachorro,que é sempre menino e levado e pertubado e sempre jovem e eu queria ser como ele.Ele é um exemplo,eu acho.Mais do que esse bando de filhos-da-puta racionais.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sobre um menino de 8 anos

Saí na ponta dos pés,para que ninguém me ouvisse.Abri a porta lenta e cuidadosamente e pronto: estava livre.A rua ficava muito deserta àquela hora da noite.Era estranho alguém tão novo como eu gostar tanto de ir pra rua,mesmo que seja só pra ficar observando o mar.Acho que estar em casa me sufoca.As pessoas em casa me sufocam.Minha irmã me mataria se pudesse,minha mãe me culpa por tudo de ruim que acontece e meu pai só trabalha.Mas quando eu estava na rua...ah,que felicidade!Eu sei que não é normal sair por aí sozinho tão tarde da noite.Sei de tudo de ruim que pode acontecer.Sei que podem me assaltar,me bater e até mesmo me molestar.Mas,às vezes,esse perigo até me atrai.Então é bem simples: pego minha bicicleta,olho o mapa da minha enorme cidade(que,por sinal,só tem 16.000 habitantes) e "pego a estrada"."Hoje vou pra uma praia um pouco mais distante",pensei.E foi isso que fiz.Fui pra uma praia bem pequena mas que ficava linda ao luar.Ao chegar lá,havia um senhor fechando seu quiosque e indo pra casa.Ao ver-me sozinho ali,perguntou:"O que faz aqui a essa hora da noite?Onde estão seus pais?".E eu,já acostumado a ouvir esse tipo de pergunta,respondi tranquilamente:"Em casa.Estavam dormindo quando saí".O velho,que já começava a me cansar perguntou:"E eles não ficariam preocupados em saber que você está aqui?"Respondo:"Ficariam"."Então por que não volta pra casa?Quer uma carona?".Respondi,obviamente que não.Ele continuava lá,olhando pra mim,com pena.Não sei se pena de mim,por achar que eu estava perdido,ou se tinha pena dos meus pais por achar que eles ficariam extremamente preocupados e desesperados ao ver seu pequeno e indefeso filho fora da cama.Eu disse:"Não precisa se preocupar,não é a primeira vez que faço isso".E ele respondeu:"Espero que seja a última,menino.A região já não está tranquila.Ocorrem assaltos a toda hora.Eu mesmo tenho tido medo de sair daqui do quiosque tão tarde."Depois de dito isso,ainda bem,foi embora.Eu já não aguentava mais.Passaram-se uns 10 minutos e agora ventava mais forte.Quanto mais tempo se passava,mais eu ficava fascinado com a beleza do mar.Eu acho que gostaria de ser pescador.Seria bom ter contato com o mar todo dia.E ser marinheiro deve ser chato.Uns 5 minutos depois dessa reflexão,olho pro lado e percebo um casal chegando.Não me notaram,eu acho.Se me notassem,talvez não fizesse diferença também.Eles chegaram num carro preto,bonito,parecia ser bem novo,pois estava limpo demais.E como muitas estradas aqui são de terra,os carros nunca ficam limpos daquele jeito por muito tempo.Ela estava com um vestido bem curto,parecia o que minha mãe usava pra dormir.Ele vestia uma roupa qualquer,não lembro direito qual era.Em pouco tempo,o curto vestido que ela usava,já estava no chão e eu sentia algo estranho.Meu coração batia um pouco mais rápido e tinha outra coisa também que eu não sabia explicar muito bem,dentro da minha calça,era bom,mas eu estava ficando nervoso.E depois o homem começou a fazer umas coisas com ela e ela soltava uns barulhos estranhos,bem agudos.Era bom ver aquilo,ouvir aquilo,imagina sentir aquilo,eu pensava.Meu coração ficava mais acelerado e meu... ah,eu tenho vergonha de falar nisso,parecia estar maior do que geralmente.Eu sentia vontade de colocá-lo pra fora mas eu só conseguia ficar olhando pros dois lá na areia fazendo aquilo.Já estava engolindo em seco,meu coração estava descontrolado,então comecei a correr,peguei minha bicicleta e fui pra casa.Chegando em casa,consegui ir pra cama sem ser percebido.Mas não conseguia tirar aquela imagem da minha cabeça.Eu me sentia nervoso mas de um jeito bom,toda vez que lembrava daquela mulher soltando aqueles barulhos lá na praia.Eu queria ser aquele cara,eu pensava.E aí,fui pro banheiro,intuitivamente e comecei a fazer algo com minhas mãos,não sabia de onde tinha tirado aquela ideia.Só sei que era muito bom.





Obs.:Eu juro que por uma semana,morri de medo e vergonha de postar esse texto.Ele foi uma tentativa de não criar um texto sem dramas tão cotidianos e corriqueiros como os que geralmente exponho nos meus textos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Um pio.

A falta de palavras me tem ocorrido por motivos que sei com exatidão quais são.Eu não esperava que isso fosse acontecer,não mesmo,mas,como já tinha dito anteriormente aqui no blog,pra todo bom momento meu em algum aspecto,há uma queda em algum outro.Então,apesar de me ser extremamente dolorida a falta da capacidade de expressão,algumas outras coisas estão melhores.É estranho,eu já guardo tanta mágoa,tanta dor,decepção,tristeza e sem escrever a bola-de-neve negra de meus sentimentos só aumenta.Não escrever é garganta entalada,é choro preso,é dor interna excessiva.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Eu sempre me senti livre como um pássaro.Que voa infinitamente em direção ao conhecimento e à sabedoria.Mas hoje acordei porco.Descobri-me gordo,morando num lugar do qual não gosto,correndo atrás do lixo,que chamo de "objetivos".Não como o porco do Animals de 77,do Pink Floyd que,assim como os pássaros,fica lá,longe,inalcançável,suspenso.Sou um porco,sujo,feio,escroto,vergonhoso.Somos nós todos.





Eu tenho problemas,
mais ninguém,só eu.

As outras pessoas,
são como a maçã que acabei de cortar:
cheias de pequenas
imperfeições.

Os meus problemas,se tornaram
maiores que eu.

Eu sou um tumor ambulante.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Jovens de classe média ascendentes

A gente ousa
se dizer gente,
dizer que cresceu,
que é maduro.

Consideramos os outros infantis,
somos muito sérios
e dedicados
e almejamos grandes coisas.

Apesar de nossos desejos,
terem tamanho suficiente para
nos sufocar,
a verdade é que somos apenas
grandes merdas.

domingo, 9 de agosto de 2009

"Step Into My Office,Baby"

As horas têm passado leves,faceiras,não me sinto em comunhão comigo mesmo,tenho tratado as coisas com displicência que me é incomum.Eu tenho sido ingênuo,infantil e triste,eu estou lento e sensível.As férias prolongadas não me têm feito bem.É como se tivessem esticando,prolongando e arrastando por toda uma estrada um mal-estar,uma dor-de-barriga,um incômodo extremo.Tenho bebido mais do que gostaria,tenho sido menos eu(o que nem sempre é ruim mas incomoda).



O vinho acabou,
a gente secou,
nossos olhos se desencontram,
após o embaraçar de sentimentos,
de pernas,de amor.

Fica tudo embaçado,
ainda te vejo no espelho,
quando me olho.

Ainda sinto falta de sentir
sua falta,
sabendo que você vai
chegar em casa
em meia-hora.

Ainda morro de inveja,
da tua mãe e do teu pai,
pois eles estarão
sempre ao teu lado,
algo que não consegui.

Mas não consigo erguer-me
desse colchão de merda,
pegar o telefone e dizer:
"Eu quero te ver".

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O longo descanso

Quando o corpo pede
e os olhos cansam,
algo está errado.

Pernas fraquejam,
onde quer que eu vá.
Algo está errado.

Apatia,desencontros,
melancolia.
É hora de descansar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Eu e ela

Saio do vagão à procura dela.Meu amigo disse que me encontraria no banquinho do lado da lixeira laranja.E eu em busca dela.Eu perguntei a ele:"Mas tem só uma lixeira laranja na estação inteira?"E ele disse:"Não,cara,mas na parte em que você vai sair,só vai ter essa,confia em mim".E eu,ligeiramente sonolento,pois ainda era bem cedo,não a encontrava de jeito nenhum.Além disso,estava morrendo de vergonha de perguntar a alguém,pois não é como perguntar sobre algum ponto-de-referência comum ou um ponto turístico.Seria mais ou menos assim:"Senhora,sabe onde fica A Lixeira Laranja?",e ficaria aquele ar de...de quando uma pessoa acha que a outra fez uma pergunta muito idiota e não tem coragem de ser grossa,por não conhecer ou por simples educação.Então,resolvo mudar de foco.Procuro pelo banquinho.Mas o problema é que existem vários banquinhos e nenhum deles parece ter uma lixeira do lado,nem laranja nem de qualquer outra cor.E,então,quando já fico desesperançoso e nervoso também,vejo meu amigo acenando pra mim ao longe.Vou andando na direção dele e pergunto:"Cadê a tal da lixeira laranja?",e ele,com a maior naturalidade:"Ah,sei lá,devem ter tirado".Às vezes,acho que meus amigos não estão muito aí pra mim.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Reações pós-papel

Acabei de escrever um texto à mão.A falta de praticidade fica evidente e agora,por exemplo,percebo minha mente lenta demais para redigir aqui no computador,pois aqui,há a possibilidade de se escrever muito mais em muito menos tempo,pode-se dizer mais coisas,com menos esforço e maior velocidade,o que é ótimo.Sinto-me mal agora por não estar conseguindo raciocinar tão rápido para escrever aqui e por ter mãos nervosas e inábeis,nesse momento,para as teclas.Devido a isso,é até provável que sejam aumentadas as possibilidades de erro(tanto de digitação quanto gramaticais).Os meus manuscritos,por exemplo,possuem um número maior de erros gramaticais.Ah,quão desconfortável me sinto agora.Ruim mesmo.Sentir-se mal como me sinto agora,às 1h20 da madrugada,de mãos atadas.O melhor é relaxar e dormir.Só isso me resta agora(além de um bom copo d'água).




Há poesia demais em mim.
Sinto-me irreal,
digno de histórias em quadrinho
e novelas da Globo.

A minha excessiva poeticidade,
torna-me monstro.
Monstro pela exagerada distinção,
quando em comparação aos outros.

A minha beleza e enorme diferença,
perante todos os outros,
me exclui e torna-me triste.

Canso-me de ser diferente,
renuncio toda essa nobreza
e cubro-me de ordinariedade.

domingo, 2 de agosto de 2009

"Você Pode Ir na Janela"

Eu nunca lembro com amargura das coisas duras.Mas tudo insiste em me agredir,acho que estou me tornando uma pessoa triste,as coisas começam a dar muito errado.Já não faz sol há duas semanas,as pessoas me ignoram,meu carro tá velho e eu estou triste.Eu fui consertar a lâmpada da entrada da garagem ontem e tomei um choque que me deixou desmaiado por meia-hora.No dia seguinte,uns pivetes que passaram na rua jogaram pedra na lâmpada e quebraram-na,destruíndo todo o meu trabalho.Além disso,um dos meus parceiros que era também desenvolvedor em um novo projeto da empresa roubou minha ideia e conseguiu a promoção que eu espero há 2 anos.Também descobri que minha mãe trai o meu pai desde que...desde que...eu me entendo por gente,eu acho.Faz muito tempo mesmo.Pelo que eu vi,eu era pré-adolescente quando tudo começou.Ela só esperou dar tempo pra que eu crescesse o bastante pra ficar em casa sozinho e inventou as desculpas do plantão no serviço,que duraram por quase vinte anos.Com isso,meu pai mora comigo agora e isso diminui minha privacidade,minha liberdade e minha criatividade apesar de amar meu pai(e muito,por sinal).Eu já não sei me adaptar às coisas.Apesar de ter 29 anos,me sinto um velho antiquado e agora,além disso,triste.Antes aconteciam coisas ruins comigo mas como eu nunca dava bola,elas passavam como...como um carro passa,quando você tá no ponto-de-ônibus.Não faziam a menor diferença pra mim,mas de uns tempos pra cá,eu comecei a notar as coisas.Eu estou ficando velho e sensível,antes de todo mundo.O que é péssimo nesse meu universo de agressividade,empreendedorismo e disputa corporativa acentuada.Vejo minha condição exacerbar-se com mãos atadas e cansaço.Muito cansaço mesmo.Pra acabar com isso,resolvi aproveitar minhas férias de meio de ano(1 semana)pra ir com o meu pai pro sítio da minha tia,nem lembrei de chamar minha mãe,que sempre ia com a gente,mas resumindo:foi maravilhoso.Foi a melhor coisa que eu podia ter feito para relaxar.O contato com a terra,com as árvores,com os animais e com a minha tia também(sempre muito preocupada mas de um coração lindo que dá dó).Mesmo assim,quando voltei à cidade,àquela rotina cruel,parecia que nada tinha acontecido.Parecia que eu havia passado uma semana em casa,sem fazer nada.Eu conversava sobre isso com os meus amigos,eles mudavam de assunto,diziam que eu tava ficando chato.E tava mesmo.Eu conversei com meu pai e quando o fiz me perguntei:"Por que não falei com ele antes?".Foi ótimo ter conversado com ele.Foi bonito,esclarecedor,sincero e nos aproximou bastante.Mais do que antes,pelo menos.Mesmo com tudo isso,eu era tomado por uma apatia sem igual,meu rendimento no trabalho caiu,meu chefe me chamou pra conversar e disse que eu devia ir a um psiquiatra,psicólogo,alguma coisa assim.E também alguns "amigos" se afastaram.Eu percebi em pouco tempo,que só conversava com os faxineiros do meu serviço(sobre futebol e essas coisas),com meu pai em casa e com minha mãe pelo telefone.Eu que sempre fui popular,ao invés de tentar mudar a situação,fiquei com vergonha daquilo,fui ficando cada vez mais caseiro e tive o diagnóstico de Depressão,quando fui ao psiquiatra.Só que meu chefe não poderia saber,eu teria algum prejuízo,na certa.Pra disfarçar do pessoal no emprego,não podia levar os remédios de tarja preta e,com isso,minha condição foi se agravando.No penúltimo dia,eu estava no hospital,pois não estava me alimentando corretamente.Aliás,eu (quase) não estava me alimentando.Era um dia bonito,os pássaros cantavam,meu pai estava animado pois havia ido no Karaokê com velhos amigos e tirou 100 em duas músicas,na noite anterior.Era véspera do meu aniversário e minha mãe já havia me ligado,contando todos os planos.Eu só concordava,escroto que sou,que fui.Às 21h30 dessa Quinta-feira,fui sentar na janela do prédio,que dava pra rua.Como sempre,eu era invisível,nenhum transeunte via o maluco que se jogaria do prédio em 20 minutos,mais ou menos.Às 21h51,eu já estava fora de mim.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Beyond Beautiful

Ele saiu do carro nervoso e ansioso por água.O dia estava tão quente que a goteira no teto da casa já havia secado por completo.Correu desesperado em busca de um copo.Não tinha nenhum limpo,foi à pia e mesmo sem lavar encheu de água gelada.Bebeu como os bichos bebem.Bebeu loucamente.Três copos em sequência e depois cansou,sentiu-se cheio e foi deitar.Dormiu até as 9 da noite,com o barulho do telefone:
_Alô,é o Bruno?
_Não,ele respondeu.
Não era a primeira vez que ligavam procurando por esse Bruno e,provavelmente,não seria a última tampouco.Sentou-se na poltrona e começou a pensar:"Cadê minha vida?Hoje eu fui no mercado,bebi água e dormi.Como se vive assim?".Coçou a cabeça e ficou pensando no emprego que jogara fora,na namorada que jogara fora,no cachorro que morreu,na avó que morreu,em tudo que tava morrendo,"essa vida mórbida que eu levo".Ele vivia às custas do pai agora,que sempre pergunta sem agressividade:
_Filho,quando você vai voltar na empresa e pedir desculpas ao seu chefe?
_Não sei,pai,ele feriu meu orgulho.
E o pai perguntava isso,dessa maneira,porque sabia que o filho era o único Bacharel em Arquivologia da cidade e aquele escritório era o melhor da cidade.Uma hora ou outra eles voltariam um para o outro,mas Marcelo já não queria trabalhar lá.Tudo parecia tão cansativo.A rotina era pesada e,o pior,Marcelo não se dava bem com ninguém naquele lugar.Todo dia se esforçava para fazer amizades,mesmo que não gostasse da pessoa,e esperava pra ver se aquela relação se tornava algo natural e sincero.Até se tornava,mas nunca para ele.Tudo lá parecia sem graça.Então,cansado de tudo,Marcelo liga para a ex-namorada:
_Oi,é o Marcelo,quer sair?
_Olha,não vai acontecer nada,tá?Eu só vou porque não tenho o que fazer hoje à noite.
E o pior é que foi verdade.A noite foi ótima,eles conversaram até o restaurante,que ficava perto da casa dela,fechar,depois conversaram mais ainda e se despediram com um abraço forte e um beijo carinhoso que só dois amigos podem se dar.Ela parecia feliz,satisfeita com aquilo.Ele não.Quando chegou em casa,começou a socar a cabeça pensando:"Por que você não tentou nada,seu idiota?Vocês ainda se dão bem pra caralho,viu?Seu babaca perdedor".Após essa bela reflexão,com a qual Marcelo se acostumava cada vez mais,foi dormir seu sono de "babaca perdedor".

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Opinião

Eu não tenho muito pra dizer,vozes diferentes têm me sussurrado,ventos diferentes têm soprado por aqui.Algo mudou nessas férias,eu sei.Estou feliz,finalmente,mas e do tipo de felicidade que é tão espontânea e imensa que,sei,não vai durar.Não durou da última vez por que duraria agora?Hoje uma coisa muito boa aconteceu:tive um dia inacreditavelmente bom,com pessoas que adoro.É raro ter dias assim.Foi tão natural,espontâneo e...belo.Incrível mesmo.


Do sangue que cuspo
do vento que sopra
do beijo que roubo
da vida que rola.

Do canto do quarto
pra cima da cama.
No escuro,na lama
em qualquer lugar.

Não importa o ambiente,
o que está em meu torno:
o eterno retorno,o eterno retorno.

Eu choro,eu sofro
seja frio ou morno:
o eterno retorno,o eterno retorno.


As coisas que escrevo não fazem muito sentido.O texto acima,por exemplo,faz sentido para mim.Mas duvido que faça muito sentido para outrem,ainda mais pela excessiva ambiguidade(principalmente da segunda estrofe).Pelo menos,soou musical aos meus ouvidos.


Eu tenho amado tudo
o preto,o branco
o surdo,o mudo.

Contrapontos,paradoxos,
Oxímoros.
Sem saber o que amar,
fico em cima de muros.

Rimas piegas.Aliás,forçar a barra pra rimar é muito piegas.Prometo que no próximo post não tento escrever poemas.Foi só dessa vez...

terça-feira, 28 de julho de 2009

My Girls

Foi bom.Pessoas legais,com coisas legais pra fazer e dizer.O centro do Rio estava lá,como sempre está,pronto para ser desvendado(no meu caso) ou revisitado.É interessante como a hora passou rápido.O encontro estava marcado para as 10h e eu só cheguei em casa por volta das 20h,nem percebia que as horas voavam,enquanto passávamos por exposições,sebos,pelo Real Gabinete Português de Leitura(que é absurdamente lindo) e,por último,pelo Cine Odeon.Realmente,foi maravilhoso.Que venham (muitos)outros!

kids

toda hora a gente brincava,
não era felicidade,
não entrava a tristeza tampouco,
sei somente que,
de tanta gritaria,encontrava-me rouco.

do chão batido,do pique-pega,
do pique-se-esconde,
a vida passou num pique
e tornei-me homem.

ainda lembro que tanto riso,
tanto gozo,nem tinha de onde sair apenas
saía.

mas,no fundo,
a hoje melancolia de homem
se escondia.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Poeta(s) gonçalense(s)

Eu perco a delicadeza do toque,o possível sussurro,na falta de tempo para se observar o belo.Porque um escritor que passa toda sua vida mais observando puro concreto,coisas feias e pessoas fúteis não deve se inspirar muito.É essa calma que me falta.Essa vida burguesa de Leme-Gávea-Humaitá,que eu não vivi.É isso que eu estou perdendo.Falta-me a capacidade de expressar o belo,o bom,o bonito,o gostoso.Porque para expressar somente as agruras humanas,bastava que eu fosse um documentarista.Já não me dói constatar isso:o fato de ter nascido do outro lado da ponte,não em berço de ouro,nem de prata,nem de cobre mas de pura madeira,improvisada,acidental.A vida por aqui é um conjunto de tristes acidentes,a gente vive tropeçando sem saber por quê.Nossas vidas são duras,sim,agora eu sei que,de fato,são duras.Claro,há coisas piores,muito piores,mas como transformar em poesia o que eu vejo todo dia?Tá bom,vou transformar a pobreza de ideias em poesia.A falta de conversas interessantes,a falta de belezas da minha cidade.Isso é muito mais difícil do que transformar a praia em poesia.Do que transformar o Morro Dois Irmãos em poesia(como vários já fizeram).Caso queiramos ser poetas e poetisas aqui,temos uma missão muito mais difícil,que exige experiência de longa data.Além disso,para almejarmos uma posição mais confortável na sociedade,ter uma situação financeira estável,precisaremos de enorme esforço,precisaremos estudar mais do que alguém Leme-Gávea-Humaitá precisará(e,mesmo assim,corre-se o risco de não aprender tanto quanto).Isso tudo causa um desgaste enorme,e aí,nem sempre sobra tempo para divagações,ócio criativo,idas ao teatro e também não há locadoras com filmes de muita qualidade por perto,enfim.É um emaranhado de coisas que vejo me(ou,nos) empurrar à literatura marginal.

Fragmentos

É tudo muito bobo.Não é poesia,porque poesia é uma coisa bonita,eu acho.Na verdade,é poesia,porque qualquer merda escrita em versos é poesia.O que varia de uma pra outra,do cara como eu(quando "escreve poesia") pro Drummond ou pro Fernando Pessoa é a qualidade.Só isso.

Sono 1

Acordo grotesco,
cheirando a sono.
Sono tem cheiro?
O sono mora no meu peito
e eu só amo,eu só quero
sono.
Eu durmo.
Nas aulas de Geografia,
nas aulas de Biologia,
no ônibus,no trem,no bonde,
no sofá.
Eu sono durmo mais do que deveria.

Sono 1/2

Acordo grotesco,
cheirando a sono.
Sono tem cheiro?
O sono mora no meu peito
e eu só amo,eu só quero
sono.
Eu durmo demais.
Nas aulas de Geografia,
nas aulas de Biologia,
no ônibus,no trem,no bonde,
no sofá.
Eu,sono.

Frag.1

Eu não acho a escola chata
por que eu não posso.
Mas se eu pudesse...

Frag.2(verídico)

Eu nunca vi morça,
nunca vi golfinho,
fiquei puto hoje de manhã,
por causa do passarinho
que cantava às 6 horas da manhã.

sábado, 25 de julho de 2009

Chifres

Não choro se tenho um belo e vigoroso par de chifres em minha cabeça.O que ocorre é que a felicidade vem me corneando,me chifrando,me traindo desde sempre.Quando achava que ela era só minha,via-a abraçada com conhecidos e amigos.Nas nossas tentativas de casamento,ela sempre fugia com aqueles nos quais eu depositei um pouco da minha confiança(que,para mim,já é muito).Eu sei que ela não gosta de mim e talvez nunca vá gostar,mas amo-a e almejo-a.Não saio mais em busca dela,pois sei que não é assim que se consegue atingi-la,é vivendo naturalmente,esquecendo-se dela que você a encontra.Apesar disso,não tenho conseguido.Já cheguei bem perto,tive noites e dias e tardes de muito prazer com ela nesses dois últimos anos mas nada definitivo,mesmo que por vezes tenha durado bastante,até meses.Agora estou mais distante dela do que imaginaria estar há pouco tempo.As suas parentes,amargura,apatia,tristeza e melancolia,têm encontrado refúgio em mim,o que me desagrada excessivamente,mas não encontro forças para escapar de seus braços.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Tom pastel/Across The Universe

Tá tudo meio "pastel".Eu não gosto muito de pastel,eu acho.Mas não me refiro à comida,que,por vezes,até me é agradável.Refiro-me à cor.Quando penso em tom pastel penso em uma cor como "bege".Algo pálido e sem graça.Então,minha vida tá assim mesmo:pálida e sem sal.Mas tudo vai passar,eu sei que vai.Geralmente,as coisas na minha cabeça estão em constante mudança,então "as coisas passam".Isso não significa pra melhor,inclusive,geralmente é o contrário,eu acho.
Hoje eu vi o Across The Universe(tava na hora,né?)e achei tão legal!Eu não gosto de covers de Beatles,de musicais,nem historinhas bobas de amor,aí pensei:"pra que eu vou assistir esse filme?".Hoje,assistindo,eu descobri que meu amor por cada uma daquelas músicas é forte demais pra não gostar e me emocionar com o filme.É demais ver a quantidade absurda de referências que eles fazem a músicas dos Beatles,principalmente nos nomes dos personagens:Jude(Hey,Jude),Lucy(LSD),Max(Maxwell's Silver Hammer),Prudence(Dear Prudence),Sadie(Sexy Sadie) e Dr. Robert.Além disso algumas frases como:"When I'm 64" e "She Came In Through The Bathroom Window" fazendo menções bem óbvias a certas músicas.E além disso,o filme termina com uma música que me emociona de maneira bem particular:All You Need is Love.Eu não sei por que mas quando o Paul grita no finalzinho da música naquela confusão de instrumentos de sopro:"She Loves You yeah yeah yeah",eu fico arrepiado,com água nos olhos e essas coisas.Parabéns pro primeiro musical que prendeu minha atenção!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Take a Bow

Cadê as palavras?Sumiram.As férias que deveriam estar me inspirando a escrever mais,a me libertar mais,passam arrastadas devido às minhas febres,dores-de-cabeça e dores nos olhos,que servem de ótimo motivo para minha mãe me impedir de sair de casa.O plano dela é me matar aos poucos,eu sei.É me isolar dos meus amigos e das coisas que mais gosto até que eu esteja mais seco e mórbido do que já sou normalmente.Eu finjo não enxergar tudo isso,é melhor assim.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O carrinho vai,a noitinha cai

O dia estava muito quente,mas ele não ligava.Ele tinha de fazer aquela viagem e isso independia das condições climáticas ou de qualquer outra.Para comprovar isso,relato aqui que ele sentia enorme mal-estar na hora da partida.Mas era a estrada que ele queria.Só ela.Na estrada,ele era livre,sozinho,podia ser ele finalmente."Tudo na estrada faz bem a mim.Desde a sensação de liberdade até a poeira deixada por trás por outros carros à minha frente.A coisa que mais me impressionou na última vez que peguei a estrada,foi o número de pessoas que eu conheci.É sempre bom conhecer pessoas,eu acho.Por mais hostis e fúteis que sejam,é sempre bom descobrir novas pessoas.Surgem novas conversas e eu adoro novidades.Odeio rotina ou qualquer coisa que se possa parecer com isso.Então,apesar das condições adversas(considerando que eu odeio calor e meu carro não tem ar-condicionado),terminei de arrumar as malas e botei o pé na estrada.Eu sempre começava pela orla,observando as praias,as pessoas nas praias,a tranquilidade das pessoas nas praias.Mas só é possível sentir inveja delas.Eu nunca fui muito 'praiano'.Meus pais nunca tiveram o costume de ir à praia e eu peguei esse 'anti-costume'.Hoje minha única praia é o mar de papéis que tenho que organizar no trabalho.São centenas de pedidos que têm de ser enviados até o final do dia.Agora,não sei por que,mas lembrei de minha esposa,que fica extremamente irritada com essas minhas viagens estrada afora.A minha sogra acha que eu tenho uma amante,meu sogro acha que essa é uma forma de eu fazer com que minha mulher se acostume com minha ausência,porque um dia eu vou embora,na imaginação dele.Eu não gosto da família dela e nem eles de mim.Mas eu nem ligo,ela gosta de mim e eu gosto dela.Aí lembro como ela é gostosa e linda e como foi a primeira vez que conversamos.Sinto-me ligeiramente excitado no carro e senti vergonha por isso,novamente sem saber por que.Há muita coisa sobre as quais não sei a explicação.Muita coisa surge em minha mente de maneira involuntária.O que posso fazer é simplesmente tentar lutar contra isso ou me conformar.Eu prefiro me conformar.É o que as pessoas fazem mesmo:se conformam.É todo mundo tão conformado,né?Viu?Mais uma reflexão involuntária.
Depois de 4 horas de viagem,paro num restaurante para jantar decentemente.Existe muita churrascaria em beira de estrada.Nunca vi um restaurante vegetariano ou de comida oriental ou árabe em beira de estrada.Mas é disso que eu gosto:carne.Picanha,Alcatra,Maminha,o que tiver.Quando eu era pequeno,não gostava de Filé Mignon,não lembro o motivo,mas hoje tudo mudou.Hoje,tudo mudou.Essa frase me assustou depois que eu já havia pensado nela.E parei a olhar para o nada.Senti saudade da minha adolescência,dos meus pais(ambos foram mortos num mesmo acidente),dos amigos que perdi.Realmente,tudo mudou.Eu já não me reconheço,nem as outras pessoas me reconhecem.Já não me dou bem com os meus primos,que sempre foram amigões meus.Sentado na mesa de uma churrascaria praticamente vazia de beira-de-estrada,com um prato de picanha mal-passada na minha frente,penso:Em que parte dessa estrada eu me perdi de mim?"

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Férias(pior post do blog)

Eu nunca deveria entrar de ferias.Férias só trazem preguiça,mal-estar e acabam com o pouco de ritmo de estudo que alcancei até agora.Minhas férias ainda não estão ruins,mas vão ficar,eu sei que vão.É sempre ruim.É sempre a mesma história: quando tem aula,quer férias e quando tá de férias,quer voltar pra escola.O filme da minha vida se repete várias vezes e isso me desgasta muito.Conseguir prever as coisas,saber exatamente o que vai acontecer mas não conseguir impedir.É um saco isso.Meu eterno plano de férias de livros,filmes,seriados e animes legais não vai rolar,eu acho.Nunca rola,na verdade.Dá uma preguiça imensa,aí só quero jogar futebol no computador,ver televisão(ainda mais agora que achei a MTV Brasil) e ouvir música.Eu realmente gostaria de saber quando minha vida vai melhorar,quando vou amadurecer e ser como os outros.Essa coisa de ficar puto com comentários que fazem sobre mim já deu no saco,a minha timidez incompreensível e absurda e outras coisas desagradabilíssimas que fazem parte do meu dia-a-dia.Mudando de assunto,hoje eu vi um comentário interessante e inesperado.Eu tava lendo uma resenha feita por um fã lá no Whiplash sobre o último cd do Placebo(Battle For The Sun) e aí estava acontecendo mais uma daquelas discussões que sempre ocorrem em fóruns relacionados a música,na sessão de comentários que fica logo abaixo do Review.Um dos caras falava sobre a geração BBB(bebida,balada,bar)que,de acordo com ele,é mais ou menos assim: "simplesmente nao tem consciencia critica para nada, falam as mesmas coisas, vestem as mesmas roupas, falam as mesmas gírias...nao existem mais 'as tribos' os ogrupos de que se identificam com ideoloiga X ou Y e aquele pensamento "vamos mudar o mundo" ( que mesmo sendo inocente, faz com que vc se torne um adulto diferente)..existe apenas um grupo...o grupo dos robôs que fazem somente a mesma coisa pq a midia diz "que é legal", vc é legal se beber muito, se beijar muito, se ouvir tds as musicas do mundo ( pq ter um estilo musical apenas como referencia nao 'ser legal')".É verdade,o cara nem escreve direito mas tudo bem.É uma crítica não muito original e que eu mesmo já fiz aqui no blog inúmeras vezes(inclusive como sendo uma pessoa que quer fazer parte dessa geração e não consegue),mas fiquei feliz de existir outra pessoa no mundo que,mesmo não escrevendo direito,mesmo sendo fútil a ponto de participar de uma discussãozinha idiota de fórum,seja capaz de pensar como eu.Isso é ótimo.Eu não sei explicar muito bem o porquê.Mas ler isso me deixou feliz e eu me identifiquei muito com o comentário apesar de eu mesmo já ter destrinchado esse assunto.Babaquices que só rolam nas férias.Como,por exemplo,assistir um programa de 2 horas só pra ver uma música que tem o refrão: "...que você me adora,que você me acha foda...".Sim,amigos,eu tenho simpatia pela Priscilla Leone,a Pitty.Acho que é meio como o que eu sinto pela Britney Spears(sim,a própria),ficaram boas memórias da época em que eu gostava bastante.E a Pitty apesar de ter fãs com um mau gosto absurdo(inclusive por idolatrarem tanto ela),de ser namorada do baterista de uma banda infeliz(eu ia falar o nome mas não combina com esse blog),é uma pessoa com opiniões legais,interessantes e tem bom gosto musical(mas não na hora de fazer as próprias músicas,só pra deixar claro).Por exemplo,eu conheci o Velvet Underground e o Muse vendo um DVD dela.Passei a curtir mais Queens Of The Stone Age e The Mars Volta por causa dela,passei a ouvir um cd do Pixies(o Doolittle),pro qual eu cagava,por causa de um cover que ela fez(Gouge Away).Enfim,ela tem sido um ótimo exemplo pra mim.E eu gosto de algumas músicas:Medo,Na sua estante(eu sei que tocou demais e que é popchicleteescrotamelosaeparecequeépravender),No Escuro e A Saideira(que é legal mesmo,eu acho).Acho que esse é o post mais babaca já digitado no blog.Caso tenha lido até o final,parabéns.Mas acho que deve ter sido uma baita perda de tempo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Enlatados

Advindos diretamente de latas de sardinha,milho verde,ervilha e outros surgem nossas personalidades enlatadas.Todos somos cópia de algum modelo,pensamos de acordo com um certo grupo,nos parecemos com nossos amigos,adquirimos as manias de nossos pais.Por isso,somos facilmente rotulados e,quando menos esperamos,já pertencemos a um grupo.A nossa geração é a cópia da cópia da cópia...só que em versões pioradas.Versões mais rápidas,mais espertas,mais frias porém mais vazias,mais vulgares,mais perdidas.O meu erro é exatamente esse:o de não me enquadrar em grupo algum.Quer dizer,eu não me encaixo em tantos grupos como os outros.E é exatamente isso que eu quero:ser um enlatado.

domingo, 12 de julho de 2009

Meow...kitties

"Meow...kitties,meow...kitties..."
Esse som tem estado na minha cabeça.Pra quem não conhece:Leaf House do Animal Collective.Banda bem legal,sons bem loucos,traz paz,traz serenidade,apesar da loucura de sons e imagens criadas pelas músicas.É como o My Bloody Valentine,eu acho.Há tanto ruído,tantos sons,que acaba trazendo uma sensação de alívio e tranquilidade absurda.O MBV tem umas músicas muito boas,que eu só saquei agora.A que mais tem ficado na minha cabeça é Soon.Que múúúsica!!!O que que é aquilo?!É bonito demais,é calmo demais,é fantástico.É de uma delicadeza e genialidade que geralmente falta nas bandas.Realmente não é à toa que todo mundo puxa o saco do Loveless e diz que é o melhor cd dos anos 90 e tudo mais.Verdade,tem o Nevermind(que é ótimo,mas nem me interessa tanto),tem aquele famosão do Pavement que eu sempre esqueço o nome,tem o auge pop do Sonic Youth com Goo,tem o What's The Story...Morning Glory(do posteriormente repetitivo Oasis),tem o Parklife do Blur,tem Suede,o Bob Dylan fez coisas legais nos anos 90 também(pelo que eu soube hehehe).Enfim,os anos 90 não são tão ruins quanto parecem.Verdade,não é como nos anos 60 onde se tem simultaneamente Beatles,Velvet Underground,Jimi Hendrix,The Doors,Janis Joplin,Beach Boys(vide Pet Sounds)e,no Brasil,a Tropicália e a Bossa Nova um pouco antes(já que o Chega de Saudade do João Gilberto é de 1959 e pode ser considerado o pontapé inicial do movimento).E olha que eu falei poucas bandas ou músicos.Resumindo,os anos 90 foram ótimos,mais ou menos como as outras décadas.Nos anos 80,considerando rock,realmente não teve muita inovação.Houve a consolidação do Pós-punk,que já vinha sendo feito pelo Joy Division,por exemplo,desde 1978(considerando o Warsaw,porque o Unknown Pleasures,debut da banda,é de 1979) e houve a criação da MTV que fez com que a imagem valesse mais que a música,em alguns casos(vide Duran Duran,que foram pioneiros em altos investimentos em videoclipes e visuais).Ok,pode ter surgido algo de novo mas foi menos que em outras décadas.No Heavy Metal,aconteceu muita coisa.Aconteceu o NWOBH(New Wave of British Heavy Metal),que trouxe à tona bandas como Iron Maiden,Def Leppard e Venom,substituindo a galera da primeira leva(Black Sabbath,Deep Purple e,na minha opinião,Judas Priest).
Por que eu falei tudo isso?Eu comecei com Animal Collective e terminei com Judas Priest,interessante.Eu não sei,mas eu tenho a impressão de que eu gosto de música.

domingo, 5 de julho de 2009

O que vou deixar de herança?Talvez nem bens materiais,mas o que interessa aqui é o impalpável,o imaterial,o inteligível.O que vou deixar de bom pra humanidade?O que vou deixar na lembrança das pessoas que me conheceram?Acho que não vou deixar nada,sinceramente.Vejo-me como alguém fácil de se esquecer,de personalidade inconstante,auto-estima frágil,não sou atraente ou legal.Às vezes,fico muito surpreso quando alguém lembra de mim ou de algo que disse porque é das coisas que menos espero.Eu não faço caridade,não tenho vontade de fazer(em termos,em termos),não sou cristão,nem pagão,nem satânico ou sei lá o quê.Sou diferente dos outros mas não produzo nada de interessante,relevante.Quando penso em pessoas como eu,penso em pesosas ligadas à arte,de alguma forma.Pessoas estranhas,que souberam o que fazer com suas respectivas distinções.Mas eu não sei tocar nenhum instrumento,não leio muito,não tenho segurança em nada do que faço(nem escrever) e sou muito mais vazio do que pareço.Eu queria poder parecer sempre o que sou mas não dá certo,eu fico mal e acabo não mostrando realmente o que sou para os outros.Mas o que sou?Quando tento ser tão sincero com os outros quanto sou comigo mesmo,sou grosso.Quando não o faço,pareço um babaca.Eu pareço uma pessoa vazia,idiota,babacona mesmo,essa seria a impressão que eu faria de mim se estivesse do lado de fora.É por que eu sou preto?É por que eu nasci onde nasci?É a falta de segurança gerada pelos dois fatos anteriores?Não é legal falar sobre isso,alguns acham que é racismo ou sei lá o quê.Concordo com as cotas e acho que os negros são inferiores,sim.Mas não por uma questão de raça,e sim pelo fato de terem sido jogados a essa condição durante a história.Um grupo que foi extremamente oprimido.Forçaram tanto a barra com essa estória de inferioridade,que virou verdade.

OBS.:Eu não sei o motivo pelo qual escrevi isso.Desconsiderem qualquer falta de nexo,coesão ou qualidade.Eu só queria escrever.

sábado, 4 de julho de 2009

Poucas coisas me inspiram ou me agradam.Machado de Assis não me agrada muito,Saramago até que está sendo aceitável mas não é como Clarice ou Kafka ou Tolstoi ou Pessoa.Por que eu sou assim?Até dentro de meus gostos peculiares sou diferente.Hoje já não é assim pra música mas antes,eu gostava de uma banda pouco conhecida pelas pessoas ao meu redor,aí gostava de certas músicas mas nunca eram as mais famosas ou as que a maioria dos fãs gostava.Dentro de uma minoria,torno-me minoria.Como se faz isso?Como pode-se atingir um padrão mental tão afastado de todo mundo?O que é isso?Em literatura,sou lento e a maioria das coisas nem me agrada.Aí complica,e muito.Tenho curiosidade.Curiosidade de ler vários livros mas aí fico emperrado em um por muito tempo e esqueço que estava afim de ler aquele outro e dá uma agonia tão grande de ficar lendo coisas que não me interessam.Como agora em "A Viagem do Elefante",que já estou lendo há bastante tempo,é uma história sobre uma realidade que não tem a ver comigo,sobre pessoas que me são estranhas,não me identifico com nada ali.Isso é muito ruim,chato mesmo.Eu teria que nascer de novo pra ser a pessoa legal e interessante que pretendo ser.Eu sou um fingimento,eu acho.Um fingimento de tudo.Eu sou tudo ao mesmo tempo e nada,na verdade.Posso conversar sobre um monte de coisas sobre as quais não conheço, com propriedade inclusive,dando a impressão de que sei muito sobre aquilo mas,na verdade,não sei.Eu li em algum lugar alguma referência àquilo.Algum fragmento de livro que li dizia isso.Eu não sei como absorvo tanta informação sobre as coisas.Eu falo muito sobre o vazio e esse é um tema que me interessa muito porque eu sou assolado por um enorme desinteresse pelas coisas.Eu acho que só gosto muito de música,o resto é estranho,etéreo,superficial,é "moody".Uma hora sim,outra não.Agora eu gosto,amanhã não sei.Com cinema é mais ou menos assim porque gosto muito também.Com literatura acho que tenho um relacionamento bem delicado também,enjoo dela,me canso das coisas que leio.Mas aí pego um conto da Lispector,pego um poema do Ferreira Gullar,Mário Quintana,Fernando Pessoa,um conto da Kafka,aí quase morro do coração de tanta beleza que vejo ali.Em que tipo de grupo eu me encaixo?Em vários e em nenhum ao mesmo tempo.E é isso que é tão complicado.Acho legal ler,gosto de cinema,teatro mas nunca gostei da palavra "cultura"."Cultura" pra mim sempre foi algo chato,longo,que quer te passar um grande ensinamento.Devido a isso perdi muita coisa.Muito "evento cultural","feira cultural".Perdi muita cultura.Ah,sei lá.É tudo besteira,na verdade.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Reclama

Eu nunca mais quero acordar.Não pelos meus sonhos,que já não os tenho.Não pelo cansaço,que já me é indiferente.Mas pelo ardor da batalha cotidiana.Aguém ouça meu grito desesperado,alguém ajude-me a escapar dessas trevas,dessas brumas infinitas e densas.Pelos céus acima de nós,pela terra sob nós,por tudo que existe,alguém que me dê amparo e paz.Como dói ouvir essa palavra.Eu nem sei o que significa mas já a quero tanto.Eu acho que a frase correta para se iniciar este parágrafo deveria ter sido:"Eu nunca mais quero dormir",pois minha vida é um pesadelo.Das poucas certezas que tive,vão-se todas e não aos poucos,mas rápido como um carro de fórmula 1.Minha única certeza agora é a de que está tudo uma merda.O psicológico já não ajuda e agora o físico começa a reclamar também.Minha garganta está seca demais e isso me gera tosse.Meu nariz está sangrando,provavelmente devido a alguma veia que estourei pois minha alergia,se tem vontade,pode ser fortíssima.Mas para suportar melhor as agruras da vida há:"You never give me your money","Golden Slumbers","I Want You(She's so heavy)","Carry That Weight","She came in Through the Bathroom Window","Because","Mean Mr. Mustard","Maxwell's Silver Hammer" e outras(como "Your Mother Should Know").
Só Beatles mesmo.

sábado, 27 de junho de 2009

"A Outra"

E se eu não quiser a intensidade dos dias?E se eu não aceitar o vento?Mas eu não tenho escolha.O vento me sopra,a corrente me leva e o rebanho eu sigo.Tentei nadar contra,ser a ovelha negra,mas você é sempre uma ovelha nesse imenso rebanho.Se faz tudo como todo mundo,rebanho.Se faz diferente de todo mundo,serve como exceção que o sistema usa como exemplo para dizer que existem exceções.Sobre a intensidade dos dias é aquela estória de paz,de novo."Paz,eu quero paz".Não um mundo sem guerras,mas uma ideia mais egoísta(bem mais egoísta):eu quero o MEU MUNDO sem guerras,mais do que qualquer outra coisa.Basta de conflitos,dúvidas,dores,adolescência,amores,falta de amores,intensidade.Eu não quero intensidade.Quero que a vida seja pacífica e leve.Não quero grandes anseios,não desejo palpitações.Não quero tempestades de vento,nem muito menos,tornados e furacões.Quero a brisa do mar,com João Gilberto de fundo,acompanhado de Chico e Caetano(e Gil,talvez).

quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Here,There and Everywhere"

_Oi.
_Como vai tudo?
_Bem.E por aí?
_O de sempre.Não acontece nada nessa cidade,né?
_É.Pelo menos,agora é inverno,aí dá pra gente aproveitar melhor.
_Dá?
_Dá sim.Dá pra fazer fondue,ficar deitado o dia inteiro sem ninguém achar estranho,gastar menos com ar-condicionado e ventilador e também eu leio mais no frio.
_Sabe o que é engraçado?
_O quê?
_Eu bebo muito mais água quando está frio.
_Sério?Por quê?
_Não sei muito bem,a água parece mais gostosa,mais refrescante no frio.Não é que seja refrescante mas...ela parece mais...gelada naturalmente.É bom.
_Eu não sei.Eu adoro pegar minha garrafa d'água no verão e beber até não aguentar mais.
_Água é legal.Viu o show ontem?
_Que show?
_Aquele que passou no canal 6.
_Ah,nem vi.Eu tava cansado demais.
_Cansado de quê?Você tava de folga ontem.
_Mas eu aproveitei a folga pra limpar o banheiro e tirar as folhas caídas no jardim.
_Putz,deve ter dado o maior trabalho.
_Deu sim,mas eu já me acostumei.
_E sua filha?Como vai?
_Eu já não a vejo faz duas semanas.Ela viajou pra casa da tia na Inglaterra.
_Que bom...pra ela.
_Bom,em termos.Ela estava fugindo da mãe,que voltou a beber.E não gosta de ficar comigo,pois sempre diz que eu sou um pai muito relapso,afastado e frio.
_Que merda.
_Não.
_Não?
_Já me acostumei.

Pássaro em fuga

Um passarinho
fugiu do ninho,
onde ficava escondidinho
e quentinho.

Depois da fuga,
achou-se triste,
exposto e sozinho.

Sentia frio,
medo e dor.

Cadê seus pais?
Cadê a comida dada na boca?


É dura,a libertação de um pássaro.

domingo, 21 de junho de 2009

Não tem fim

As dúvidas,as saudades,os sofrimentos não têm fim.Isso nunca acaba,na verdade.São golpes sucessivos de extrema força.Matam-se 3 leões por dia e não se vê proveito nisso.Deve haver algo mais profundo,válido e real.Deve ter algum objetivo menos vazio que tirar 10.Acho que minha vida se tornou isso,porque o estudo tirou o espaço que tudo mais ocupava na minha vida.Agora eu só estudo.Hoje eu tinha um aniversário pra ir,talvez fosse legal mas eu não fui.Por quê?Pra poder acordar às 5 da manhã no dia seguinte,menos cansado do que geralmente,e chegar na escola na hora certa.O peso das coisas fica cada vez maior e não estou nem no meio do caminho.Falta muito chão pra andar,muito leão pra matar,muita dor pra sentir.Acho que aqueles caras do Spiritualized já disseram tudo:
"All I want in life's a little bit of love to take the pain away
Getting strong today
A giant step each day"

"A giant step each day".É,não dá pra ser feliz vivendo devagar(acho).

sábado, 13 de junho de 2009

Ruídos.

E você tem que conviver,tem que aceitar,tem que sorrir,tem que estudar.Você tem quê.Você tem quê.Você tem quê?Você tem quê!Durkheim,Durkheim,Coerção Social lalalala.Coerção Social.A vida é um fato social.Somos obrigados a viver.Não tem como morrer.Suicídio é covardia e a ideia do que pode acontecer depois é medonha.Sofrer é comum e todos aceitam isso.E se a gente não quiser mais sofrer?Foda-se,não importa.É isso mesmo.E se eu não quiser ir pra escola amanhã?E se eu não quiser ver as pessoas idiotas de sempre amanhã?E se eu quiser ser sincero com as pessoas?Não tratá-las bem,pois sei quão vazias são,quão cegas são(logo,quão belas são)."Go Slowly"."Slow Down".lalalaala Radiohead buzz buzz buzz Nietzsche tuntz tuntz Schopenhauer boom boom boom Crise econômica,ambiental,existencial,no relacionamento,epilética.lalalalalala quizz quizz quizz.Estamos todos putrefatos e agonizando.Tá tudo mórbido,porra.lalalalalala.Há cheiro de sangue nestas mãos.Quero sentir outros ventos nos mesmos ventos.Para isso,basta reinterpretar os ventos.E eu esqueci a chave pra reinterpretação hahahahaha ano novo,crise nova.Minha mente tá dando pane.Tilt bug lag.Tilt,tá dando lag.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eu e os peixes

Não foi um bom dia.O trânsito estava péssimo,a garota da qual eu gosto nem olhou pra minha cara e a nota do prova não era tão boa quanto eu esperava apesar de estar acima da média.Pra piorar meu dia(aparentemente),ao entrar no Pet Shop do pai do meu amigo,havia um peixe diferente dos outros.Ele parecia inquieto com o fato de que a tampa de seu aquário estava aberta.O Luís,meu amigo,ia colocar a ração dele,por isso abriu a tampa,mas esqueceu de fechá-la.E pela imobilidade trazida a mim pela negatividade das circunstâncias nas quais se passaram o meu belo dia,apenas observei o desespero do peixe.O empenho dele foi tão grande que consegiu,finalmente,pular pra fora do aquário.Sinceramente,não sei se esse era o objetivo dele,mas mesmo assim não me movi.Só observava aquele peixe ali se debatendo no chão,agonizando,tentando lutar contra algo muito maior que ele.E acabei me vendo naquele peixe.Eu sou aquele peixe,se debatendo,se contorcendo,dando mil cambalhotas por dia e aceitando todas as dificuldades e humilhações com resignação e tranquilidade,o que em outros dias de mais orgulho seria impossível.E em pouquíssimo tempo o óbvio acontece:o peixe morre.Estava ali meu futuro.Não dá pra agonizar por tanto tempo mesmo.O que eu tenho feito da minha vida?Acho que cansei de verdade agora."Vou morrer de uma vez",pensei.E foi isso que fiz.Sem mesmo ter falado com o meu amigo ou com o pai dele,saí da loja e resolvi me demitir do meu emprego de nivel técnico e trancar a faculdade de Direito.Aquele peixe me ensinou mais do que todos à minha volta durante toda a minha vida.Depois daquilo,nunca fui tão feliz:entrei num curso de Fotografia,fiz vestibular de novo,dessa vez pra Cinema e nunca mais parei de cultivar peixes.Hoje tenho um curta-metragem lançado e 7 aquários em casa.Os peixes continuam me ensinando muito.Essa coisa de respirar debaixo d'água também é uma ótima lição,sabe?Lembra a minha tentativa de me adaptar a pessoas,lugares e situações que nada têm a ver comigo.Ah,esses peixes sabem tudo mesmo.

domingo, 31 de maio de 2009

A ex-amante e as mortes

Ex-amante,sim.Mas não há tanto tempo assim.E esse foi o grande problema.Certas coisas que não deveriam vir a tona vieram.E com uma velocidade e força incríveis.Sua mãe era só lágrimas e gritos e reclamações.Tudo aquilo fora demais e seus pais,depois de 37 anos de casamento,estavam se divorciando.Além da briga judicial pela repartição de bens,que parecia eterna mas acabou terminando com sua mãe derrotada,havia uma decisão a ser tomada:com quem ficar?com a mãe ou com o pai?No final da reflexão,ela acabou por descobrir que não tinha muita opção e que tinha de ficar com o pai,pois a mãe não teria renda para sustentá-la devidamente.E a universidade trazia muitos gastos,então...
Na realidade,seu pai realmente gostava de sua mãe mas estava desestimulado pela rotina que o casamento trouxe,daí o caso.O que aconteceu foi que seu pai agora estava velho,sem mulher e triste.Triste como ela havia sido um dia e só ela podia ajudá-lo.Ajudá-lo?E quando ela estava na pior?Quem foi lá para estender-lhe a mão?Ninguém.E essas lembranças de abandono ainda a afetavam muito,por isso demorou demais a ajudar o pai.Só quando ela terminou a faculdade,aos 29 anos,e teve de passar mais tempo em casa,foi que ela percebeu a crueldade que estava cometendo.Mas já era tarde demais.Seu pai havia se entregado a um problema antigo:o cigarro.E sua mãe não estava nada bem também,estava morando na casa da falecida avó.O lugar havia se tornado perigosíssimo e a mãe já não saía de casa por medo.Medo das pessoas,assim como o de nossa protagonista em sua adolescência.Claro que por motivos diferentes mas ela não podia deixar de sentir um certo sentimento de vingança ao ver seus pais passando pelos percalços que ela teve de enfrentar quando mais nova.Ajudou os pais até onde pode.O pai morreu,com uma parada cardíaca e sua mãe,dois anos depois.Uma morte piegas e vulgar.Mesmo estando dentro de casa,uma bala perdida havia chegado até ela.
Herdou metade da herança de seu pai e repartiu-a sem problemas com seu irmão que,com ela,era extremamente pacífico,seus pais morreram muito jovens e nem a viram completar os 40 anos.Sem família,pois não conseguiu manter contato com o irmão apesar da grande simpatia que era recíproca.Sem namorado,pois já não se interessava por homens(e nem por mulheres,só para constar).E apesar disso era felicíssima.Trabalhou até o final de sua vida em um jornalzinho medíocre de seu município e nunca reclamou disso.Infelizmente,deixou o sebo mas continuava seus 3 ou 4 ou 5 livros por semana.Ah,o nome dela eu não lembro.Não mesmo,desculpe.

A Universidade

Era todo um mundo novo,de pessoas ambiciosas e ágeis.Muito mais ágeis que ela.Ela,por sinal,surpreendia-se também com sua facilidade para aprender coisas novas e,como o colega disse,não teve problemas para escrever.Era tudo questão de prática.Apesar de gostar muito de sua nova vida,ela estava muito corrida.Só podia trabalhar no sebo de noite e era lá mesmo que ela estudava,já que nesse horário não havia muita gente.Os gastos com os estudos forçaram-na a pedir horas-extras no trabalho,para poder pagar os livros,pelo menos.Os gastos com xerox,transporte e alimentação ficavam por conta de seus pais.Por falar em seus pais,algo de interessante aconteceu:ela ganhara um novo irmão.O irmão fora fruto de um caso que seu pai teve fora do casamento e que,na época,quase causara uma separação entre ele e sua mãe.O irmão havia se mudado para a casa deles,pois brigara com sua mãe e decidira morar com o pai.Apesar de a situação ser complicadíssima,ela gostava do irmão.Eles conversavam sobre as notícias que viam no jornal.Ela falava sobre as várias funções que existiam dentro de um jornal,pois na sua faculdade também ensinava-se isso.E ele falava sobre as motos que tanto admirava.As coisas realmente haviam melhorado pra ela.Tudo estava dando certo,agora seus pais cuidavam e se preocupavam com ela.Sua mãe finalmente aceitara o novo irmão como um filho e tudo era harmonioso,até que a ex-amante de seu pai resolveu procurar pelo filho.

O sótão

Ah,como era ótimo o sótão.Havia paz,havia espaço e era tão confortável.Ela se apaixonou de novo.Como havia feito com um menininho quando tinha 6 anos,apaixonou-se pelo sótão.Amou o sofá velho que já nem lembrava mais que existia,amou o fato de ter que cuidar do sótão,como se fosse sua própria vida.Tirava as teias de aranha e espantou alguns ratos que tinham lá.Lavou tudo o mais rápido possível,para poder já usufruir de sua mais nova descoberta.De semana em semana,ela fazia uma enorme faxina lá,porque era fácil acumular poeira,logo a limpeza tinha de ser muito bem feita.De tão animada que ficou,até redescobriu um outro amor:os livros.E existiam vários deles no sótão.Com tanto interesse pela Literatura,acabou tendo vontade de voltar para a escola.E como estava tão imersa em seu mundo de livros e faxinas,já não ligava de fato pra opinião alheia e passou a fazer 1h30min. de caminhada todos os dias.Ela gostava de andar rápido e sentir o vento batendo em seu rosto e os pássaros cantando e as pessoas pessoando.Tudo era maravilhoso.Com as pesadas faxinas e as caminhadas,havia emagrecido e devido aos livros,estava mais forte mentalmente e realmente voltou a estudar.Resolveu terminar o Ensino Médio(e o conseguiu,já aos 22 anos).Para conseguir livros e devido às xeroxs que devia tirar,tinha que gastar e,com isso,foi obrigada a voltar a falar com os pais,que agora consideravam-na como um fardo ainda maior pelos gastos que causava.Magra e animada,agora tinha chance de conseguir algum emprego.Conseguiu emprego em um sebo perto de casa(melhor lugar impossível).Lia 3 livros por semana e sentia-se como se viajasse o mundo todo através dos livros.Com 24 anos,decidiu fazer um curso pré-vestibular.Não passou na primeira vez.Mas não desistiu e na segunda vez,lá estava ela,fazendo Jornalismo,um colega do sebo dissera que era bom pra ela que gostava de ler e escrever.E ela disse:"Mas eu nunca soube escrever bem".E em resposta ele disse:"Com o tempo,você aprende na faculdade mesmo".E foi isso que ela fez.Ela gostava muito desse colega por sinal.Se ele não tivesse namorada,ela tentava alguma coisa.E algo estranho parecia acontecer com ela:seu buço parecia estar cada vez menor e raspando regularmente ela nem parecia tê-lo de fato.E,com isso,já recebia alguns elogios.Por ter sido gorda,os seios,as coxas e a bunda grande ficaram,então já começava a ser disputada por alguns assíduos frequentadores do sebo.Mas ela não ligava pra nenhum deles,só queria ter alguém pra conversar mesmo.Tudo que lhe importava agora era a universidade.E o sebo estava começando a atrapalhar seus estudos.