domingo, 31 de maio de 2009

A ex-amante e as mortes

Ex-amante,sim.Mas não há tanto tempo assim.E esse foi o grande problema.Certas coisas que não deveriam vir a tona vieram.E com uma velocidade e força incríveis.Sua mãe era só lágrimas e gritos e reclamações.Tudo aquilo fora demais e seus pais,depois de 37 anos de casamento,estavam se divorciando.Além da briga judicial pela repartição de bens,que parecia eterna mas acabou terminando com sua mãe derrotada,havia uma decisão a ser tomada:com quem ficar?com a mãe ou com o pai?No final da reflexão,ela acabou por descobrir que não tinha muita opção e que tinha de ficar com o pai,pois a mãe não teria renda para sustentá-la devidamente.E a universidade trazia muitos gastos,então...
Na realidade,seu pai realmente gostava de sua mãe mas estava desestimulado pela rotina que o casamento trouxe,daí o caso.O que aconteceu foi que seu pai agora estava velho,sem mulher e triste.Triste como ela havia sido um dia e só ela podia ajudá-lo.Ajudá-lo?E quando ela estava na pior?Quem foi lá para estender-lhe a mão?Ninguém.E essas lembranças de abandono ainda a afetavam muito,por isso demorou demais a ajudar o pai.Só quando ela terminou a faculdade,aos 29 anos,e teve de passar mais tempo em casa,foi que ela percebeu a crueldade que estava cometendo.Mas já era tarde demais.Seu pai havia se entregado a um problema antigo:o cigarro.E sua mãe não estava nada bem também,estava morando na casa da falecida avó.O lugar havia se tornado perigosíssimo e a mãe já não saía de casa por medo.Medo das pessoas,assim como o de nossa protagonista em sua adolescência.Claro que por motivos diferentes mas ela não podia deixar de sentir um certo sentimento de vingança ao ver seus pais passando pelos percalços que ela teve de enfrentar quando mais nova.Ajudou os pais até onde pode.O pai morreu,com uma parada cardíaca e sua mãe,dois anos depois.Uma morte piegas e vulgar.Mesmo estando dentro de casa,uma bala perdida havia chegado até ela.
Herdou metade da herança de seu pai e repartiu-a sem problemas com seu irmão que,com ela,era extremamente pacífico,seus pais morreram muito jovens e nem a viram completar os 40 anos.Sem família,pois não conseguiu manter contato com o irmão apesar da grande simpatia que era recíproca.Sem namorado,pois já não se interessava por homens(e nem por mulheres,só para constar).E apesar disso era felicíssima.Trabalhou até o final de sua vida em um jornalzinho medíocre de seu município e nunca reclamou disso.Infelizmente,deixou o sebo mas continuava seus 3 ou 4 ou 5 livros por semana.Ah,o nome dela eu não lembro.Não mesmo,desculpe.

A Universidade

Era todo um mundo novo,de pessoas ambiciosas e ágeis.Muito mais ágeis que ela.Ela,por sinal,surpreendia-se também com sua facilidade para aprender coisas novas e,como o colega disse,não teve problemas para escrever.Era tudo questão de prática.Apesar de gostar muito de sua nova vida,ela estava muito corrida.Só podia trabalhar no sebo de noite e era lá mesmo que ela estudava,já que nesse horário não havia muita gente.Os gastos com os estudos forçaram-na a pedir horas-extras no trabalho,para poder pagar os livros,pelo menos.Os gastos com xerox,transporte e alimentação ficavam por conta de seus pais.Por falar em seus pais,algo de interessante aconteceu:ela ganhara um novo irmão.O irmão fora fruto de um caso que seu pai teve fora do casamento e que,na época,quase causara uma separação entre ele e sua mãe.O irmão havia se mudado para a casa deles,pois brigara com sua mãe e decidira morar com o pai.Apesar de a situação ser complicadíssima,ela gostava do irmão.Eles conversavam sobre as notícias que viam no jornal.Ela falava sobre as várias funções que existiam dentro de um jornal,pois na sua faculdade também ensinava-se isso.E ele falava sobre as motos que tanto admirava.As coisas realmente haviam melhorado pra ela.Tudo estava dando certo,agora seus pais cuidavam e se preocupavam com ela.Sua mãe finalmente aceitara o novo irmão como um filho e tudo era harmonioso,até que a ex-amante de seu pai resolveu procurar pelo filho.

O sótão

Ah,como era ótimo o sótão.Havia paz,havia espaço e era tão confortável.Ela se apaixonou de novo.Como havia feito com um menininho quando tinha 6 anos,apaixonou-se pelo sótão.Amou o sofá velho que já nem lembrava mais que existia,amou o fato de ter que cuidar do sótão,como se fosse sua própria vida.Tirava as teias de aranha e espantou alguns ratos que tinham lá.Lavou tudo o mais rápido possível,para poder já usufruir de sua mais nova descoberta.De semana em semana,ela fazia uma enorme faxina lá,porque era fácil acumular poeira,logo a limpeza tinha de ser muito bem feita.De tão animada que ficou,até redescobriu um outro amor:os livros.E existiam vários deles no sótão.Com tanto interesse pela Literatura,acabou tendo vontade de voltar para a escola.E como estava tão imersa em seu mundo de livros e faxinas,já não ligava de fato pra opinião alheia e passou a fazer 1h30min. de caminhada todos os dias.Ela gostava de andar rápido e sentir o vento batendo em seu rosto e os pássaros cantando e as pessoas pessoando.Tudo era maravilhoso.Com as pesadas faxinas e as caminhadas,havia emagrecido e devido aos livros,estava mais forte mentalmente e realmente voltou a estudar.Resolveu terminar o Ensino Médio(e o conseguiu,já aos 22 anos).Para conseguir livros e devido às xeroxs que devia tirar,tinha que gastar e,com isso,foi obrigada a voltar a falar com os pais,que agora consideravam-na como um fardo ainda maior pelos gastos que causava.Magra e animada,agora tinha chance de conseguir algum emprego.Conseguiu emprego em um sebo perto de casa(melhor lugar impossível).Lia 3 livros por semana e sentia-se como se viajasse o mundo todo através dos livros.Com 24 anos,decidiu fazer um curso pré-vestibular.Não passou na primeira vez.Mas não desistiu e na segunda vez,lá estava ela,fazendo Jornalismo,um colega do sebo dissera que era bom pra ela que gostava de ler e escrever.E ela disse:"Mas eu nunca soube escrever bem".E em resposta ele disse:"Com o tempo,você aprende na faculdade mesmo".E foi isso que ela fez.Ela gostava muito desse colega por sinal.Se ele não tivesse namorada,ela tentava alguma coisa.E algo estranho parecia acontecer com ela:seu buço parecia estar cada vez menor e raspando regularmente ela nem parecia tê-lo de fato.E,com isso,já recebia alguns elogios.Por ter sido gorda,os seios,as coxas e a bunda grande ficaram,então já começava a ser disputada por alguns assíduos frequentadores do sebo.Mas ela não ligava pra nenhum deles,só queria ter alguém pra conversar mesmo.Tudo que lhe importava agora era a universidade.E o sebo estava começando a atrapalhar seus estudos.

O Buço

Sim,ela tinha buço.E como tinha!Nada a incomodava mais do que olhar-se no espelho.E por quê?Devido àquele maldito buço.Porque não havia Gilette no mundo que desse jeito e não havia um homem no mundo que não a olhasse de modo estranho.O buço era maior que ela,havia tomado conta de sua personalidade.A menina antes tão extrovertida,na adolescência ficou "chata,preocupante para a família".Nas festas de família,ela ouvia zuações de seus primos:"Isso aí só pode ser traveco".E os tios sempre a perguntar:"Por que ela fica tão quieta e isolada?Por que não sai com os outros jovens?Será que ela tem problemas psicológicos?"Apesar de tanta "preocupação",ninguém se movia.Nada era feito,os anos se passavam e a melancolia e introspecção aprofundavam-se.Ela,que antes de realmente feio só tinha o buço,agora era gorda e tinha olheiras profundas,como sua tristeza.As olheiras estavam lá,porque já não consegui dormir devido a seus pesadelos com repreensões alheias e agressões físicas,por ser considerada uma aberração da natureza.E até seus pais estavam cada vez mais distantes,já não ligavam."Ninguém nunca ligou",ela pensava.O seu medo da hostilidade alheia só crescia e ela pensava em se matar,mas tinha preguiça e se condenava por isso também.Até que chegou o dia em que ela completou 18 anos e já não ia mais à escola porque não queria ser vista e,agora,realmente não falava mais com ninguém.A não ser seu gato,Félix("nome clichê",ela pensava).Ela reprovava tudo em si mesma,até sua tristeza era vulgar e infundada já que os outros não tinha nada a ver com sua vida.Não fazia sentido pra ela se importar tanto com a opinião alheia,mas acabava acontecendo.Cansada de ter que conviver com os outros a sua volta,decidiu mudar-se para o sótão.Havia um baú vazio lá e parecia ser quentinho e confortável.Em dois dias,mudara-se para o sótão,sem uma repreensão sequer de seus pais,ou a preocupação de sua avó,talvez a única a realmente querer cuidar dela,e que já estava morta.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O que resta de tanta coisa que já foi dita?O que sobrou de tanta expressividade que foi jorrada?Só o vento,talvez nada.Canso-me de repetir que todo mundo sempre tem algo pra dizer e eu mesmo já não as possuo.Faltam ideias,falta capacidade de expressão,falta vivacidade nesse sangue e alegria nesses olhos.Talvez por não ver o pôr-do-sol,por não apreciar o vento,por não rir com coisas das quais eu realmente ache graça.Falta tudo isso em mim.Eu sou menos para ser mais.Sacrifico cada prazer que poderia ter em prol de algo "maior".Quão maior é isso?Quão válidas são minhas tentativas?E o pior disso tudo é que mesmo com tanto sacrifício,o final da jornada pode não ser satisfatório.A dor e os espinhos são garantidas mas o sucesso não.E aí?E agora?Tem volta?Não.

sábado, 23 de maio de 2009

Eu e o sofá

Foi uma guerra,eu sei.Parecia eterna e foi dificílima.Acho que ninguém venceu,na verdade.Uma parte minha continua lá,deitada,imóvel e frágil.E uma parte daquele sofá ficou em mim e reflete-se na minha preguiça e hesitação em fazer algo de útil nesta tarde de sábado.Eu cheguei do curso e deitei lá,já que não podia usar o computador devido a certos motivos.Foi complicado levantar pra pegar o prato do almoço,mas quando eu terminei o almoço...foi aí que realmente começamos a travar a batalha.Eu me remexia de 5 em 5 minutos,eu acho.Não estava confortável ali mas não vou dizer que estava ruim também.A qualidade da cama é proporcional à vontade de dormir.Chegou uma hora que eu,finalmente,consegui dormir.E acordei algumas horas depois.Fraco e desnorteado.O que resultou em mais tempo só para conseguir me desvencilhar das armadilhas do sofá.Acho que o sofá tá ficando mais esperto que eu.E quando isso acontece,significa que a mente está fraca ou que o sofá está forte.Então,só há duas opções:vender o sofá ou fortalecer minha mente.Claro,a segunda é mais inteligente e viável,mas quando vou conseguir fazer isso?Só Deus sabe.Ou não.Vai ver nem ele.Porque imaginem como deve ser chato ficar bisbilhotando as minúcias da vida de todos.Eu não consigo acreditar num Deus fofoqueiro,que sabe tudo sobre nós.Porque aí Deus seria parecido com a minha mãe e com as pessoas daqui de perto,então Ele(ou Ela,se você cultivar alguma religião pagã)deve ser muito chato e fútil.E eu não quero acreditar num Deus fútil também.Mas o foco era o sofá,não?Ah,esquece o sofá.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A dança

Era uma dança,eu imagino.Se não o fora,algo próximo devia ser.Era um bailado estranho e as faces sinistras faziam-me palpitar.Palpitar de quê?De medo,de susto.Dançar de máscara pode ser muito divertido dependendo do lugar.Mas aqui não era o caso.As assustadoras máscaras de Helloween e a música gótica tocando ao fundo só fazia com que eu me entregasse a uma dança muito mais complexa e bizarra internamente.A dança da solidão.Todo aquele ritmo vago,todas aquelas sinfonias da tristeza,deixavam-me mais confuso.E naquele ambiente,do qual eu já não fazia mais parte mas forçava a barra pela necessidade de me incluir em algum grupo,avistei uma menina.Era bonita,sim.Observando a beleza dela e me atendo aos detalhes de sua carregada maquiagem negra esqueci o medo e ignorei as trevas emergentes das caixas de som.Lembro-me que após muito admirar,fiz meu caminho até ela.E levei o melhor "não" da minha vida.Foi mais ou menos assim:
_Oi!E aí?Gostando da festa?
_Sim.
_E você tá sozinha?
_Sim,mas não para você.
E acho que senti-me humilhado pelo desprezo demonstrado.Fosse racismo(pois vários góticos só amam branquelos/branquelas),fosse simples mau-humor,eu não sei por que,mas adorei aquilo.Acho engraçado ser enxotado,esmagado,tornou-se comum para mim.Agora acho graça disso.Eu comecei a rir e ela virou as costas e continuou seu bailado esquisito.Acho que,na verdade,adorei aquilo porque pude ficar próximo a ela e sentir seus cheiros,observar suas minúcias de perto,nem que fosse por um minuto.Acho que foi isso.
Às vezes meus sonhos são agridoces.



Texto falho.

domingo, 10 de maio de 2009

Inveja

Inveja é coisa muito feia.E eu sei muito bem disso,mas não consigo evitar.Ela vem,travamos batalhas incríveis e,de vez em quando,ela ganha,em outras,eu ganho e isso é chato.Nos últimos dias,eu tenho perdido pra ela.E tá sendo bem desagradável.Eu não consigo tirar o tal assunto da minha cabeça.O meu progresso já tem sido lento,some a essa lentidão,o sentimento de inveja e o que você tem?Dor-de-cabeça e mais lentidão ainda.Como se elimina a inveja(no meu caso,pelo menos)?Aprender a ser mais compreensivo consigo mesmo.Entender que as minhas dificuldades não são comuns.Entender que o que é fácil pra todo mundo,é difícil pra mim.Hoje eu descobri uma música que resume muito bem minha situação.É verdade,eu já conheço essa música desde que tenho 10 anos de idade ou menos,mas só agora vi quão bem essa e uma outra do The Smiths me resumem.A música seria "How Soon Is Now?" e a outra "Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me".Sim,o Morrissey se dizia assexuado.Acho que mais pra que a mídia parasse de encher o saco dele mas pode ser verdade.Dá tanto trabalho essa coisa de conseguir alguém legal e lidar com uma sensibilidade que,geralmente,homens não têm que ele pode ter chutado o balde.É bem possível.Eu ainda não chutei o balde,mas se eu tivesse que responder à pergunta da música(How Soon Is Now?),a resposta seria:"Bem distante".

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Misto-Quente

Hoje terminei o Misto-Quente do Bukowski.Eu queria tanto acabar o livro,porque achava que haviam coisas mais interessadas a se descobrir em Literatura.E acabei.O livro me acompanhava desde o final de Janeiro/início de Fevereiro.É bastante tempo.Muito tempo para um livro de bolso de 316 páginas,eu sei.Eu sou lento pra ler.Ainda mais quando o livro parece um martírio e me atira contra uma realidade feia,rude,vulgar e cruel,que eu prefiro esquecer,para o meu próprio bem.Em um período da minha vida,eu primava pelo realismo,por essa crueza e visceralidade nos detalhes.Ano passado,quando a minha própria realidade parecia dura demais,entreguei-me a Clarice,pássaros,sonhos e beleza.Ao ler Misto-Quente,confrontou-me um mundo de paus-duros,bocetas,saias levantadas,punheta,álcool e uma desolação infinita e que ninguém consegue resolver.O livro se passa numa época que realmente deve ter sido péssima para quem morava nos Estados Unidos.O livro se passa no período da Grande Depressão americana(iniciada em 1929,com o "crash" da bolsa de valores)e acaba com o ataque a Pearl Harbor(ou melhor,Segunda Guerra Mundial).Resumindo,um período de merda.Que relata a vida de pessoas merdas.Com realizações medíocres em vida,com sonhos de voos rasos,com reflexões enojantes e tristes.E,claro,mais do que qualquer outro personagem que apareça no livro,o protagonista é complicadíssimo.É um escroto,um verme da sociedade,um verdadeiro filho-da-puta,assim como seu pai antes dele.Henry Chinaski tem nojo da maioria das pessoas(se não de todas),mais especificamente,de seu estilo-de-vida extremamente correto e essa busca vã pelo sonho americano.Até aí,tudo bem,vários adolescentes podem odiar isso.A questão é que o protagonista critica,cospe e escarra em cima de toda essa pregação do "American Way Of Life" mas não propões soluções,nem mesmo pra sua própria vida.Então entrega-se a uma corrida auto-destrutiva regada a muito álcool.Muito álcool.Acho que ainda parece pouco,eu disse muito álcool,muito mesmo.Coisa de 20 a 25 copos por noite.Seja de uísque,cerveja,vinho caro ou barato ou o quê mais aparecer na sua frente,que contenha álcool etílico.Ele gosta de mulheres.Mas não consegue se relacionar com nenhuma.Em sua infância,ele até teve algo com uma vizinha mas não passou disso.Daí pra frente,foi só masturbação.Era louco por pernas,bundas,cabelos,seios e essas coisas que atraem todos os homens.Só que sentia nojo das mulheres.Acho que por se entregarem a caras tão idiotas,por motivos tão idiotas(assim como eu já pensei um dia).As mais bonitas e mais gostosas ficam com os mais ricos e mais bonitos.Ele era pobre e feio.Muito pobre e muito feio.Ele tinha um grande problema com espinhas,que não paravam de pular de sua pele e por todo o corpo.Ele até foi a um hospital especial para tentar a cura para seu problema de pele,em vão.Só causou mais sofrimento,devido às agulhas usadas no "tratamento".Por falar em sofrimento físico,isso era normal pra ele.Seja apanhando desde muito cedo do seu pai ou devido às constantes brigas.Apanhar virou parte de sua vida,assim como músicas e filmes fazem parte de nossa vida.Ah,ele também escrevia.Ganhou uma máquina de escrever e começou a produzir.Engraçado,um dos "amigos" dele gostava de falar sobre os textos que escrevia e comentava com Chinaski sobre eles.E também fazia comentários em cima dos textos de Chinaski,coisa da qual ele não gostava.Achei isso interessante,porque é uma coisa que ninguém faz hoje.Não no Brasil,não nessa fração de lugar onde eu vivo,pelo menos.Mesmo conversando com pessoas da minha idade que escrevem(bem,inclusive) e gostam de ler e de escrever,ninguém gosta de falar sobre seus textos.Talvez a idade,talvez a timidez decorrente da idade,talvez vergonha,talvez por que não seja normal escrever bem na nossa sociedade.E gostar de escrever é algo estranho.Gostar de ler já é algo um pouco estranho.Minha realidade talvez não seja tão distante de realidade de Henry Chinaski,acho que estou rodeado por pessoas tão medíocres quanto as do livro.Infelizmente.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

So sorry

I'm sorry for betraying myself and for the pain I've been causing to my mind.I'm sorry for the problems I've created and that are much bigger than I am.I'm sorry for being who I am.I'm sorry that my ambitions just don't match my personality.Actually,I shouldn't be sorry for any of theses thing 'cause it's not my fault.The way I've been created,have just brought me here and now it's inside of me in a way I just can't pull it off.It's horrible,of course.I feel like the most troubled and lonely teenage on Earth.And I'm sure that my pain is quite different from everybody else's pain.And that it hurts much more,obviously.I don't know why should I suffer that much.It feels like killing my mother for this kind of thing.For making me be the monster I am today.The Loser,the Weak,the Sad,the Mistakened,the Lonely.

OBS.:Eu escrevo o mesmo texto há um ano.A língua muda,as palavras mudam,mas no fundo é o mesmo texto.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

"A vida é doce"

Não se pode fazer o que se quer por motivos diversos.Somos impossibilitados pelas nossas rotinas,que derivam da nossa necessidade de "ser algo na vida",que é fruto de ambições despertadas em nós,geralmente,por nossos responsáveis.Somos fruto de uma filosofia espontânea,como já dizia Gramsci ao falar do senso comum e do bom senso.Nosso dia-a-dia vazio e tedioso,a incapacidade de comunicação do ser do século XXI e outras coisas mais,são frutos da falta de reflexão.Frutos do "ir na onda","fazer o que todo mundo tá fazendo" e outros.A falta de senso crítico e análise da realidade é algo agradável?Sim,é ótimo,é fácil,é saudável.Eu provavelmente vou envelhecer mais rápido que os meus colegas,porque penso demais,porque critico demais,porque enxergo demais(demais mesmo,além do que deveria).O meu grande sonho é a cada dia mergulhar mais fundo nesse poço de indiferença que é o homem moderno.Ser cada vez menos.Ser cada vez mais todo mundo.Até que eu não seja mais.Até que eu me torne como qualquer outro.Ignorante,estúpido,burro mas feliz.

OBS.:Mais um texto bobo.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

146

Hoje eu me afoguei em mim mesmo.Imergi sem medo no profundo do que sou.E arrependi-me plenamente.Vi quanta falta e quanto falta pra eu ser feliz.Vi um espelho negro que nada mostra.Mostra vaidade,orgulho,inveja e pessimismo.Foi só isso que restou da criança sorridente.Dessa época nada sobrou.As festas na casa da minha bisavó morreram junto com ela.Meu avô morreu junto com seus cigarros.Minha avó entrou em depressão e agora já não é aquela que eu admirava tanto.Minha mãe continua ignorante e sendo um empecilho.Acho que finalmente posso dizer que faço parte dessa família.Faço parte dos meus antepassados suicidas,sou herdeiro de meu tataravô que tacou fogo em si mesmo.Essa melancolia de preto pobre eternamente emergente.Eu sou um ótimo objeto de estudo para a Sociologia,eu imagino.Minha professora diz:"Filhos de ricos e filhos de pobres podem chegar ao topo.Todos têm essa chance,o que difere é o caminho para chegar até lá,os obstáculos enfrentados por um e por outro".E não que eu vá chegar ao topo mas o meu caminho tem sido bem tortuoso.Se existe esse ser fodão que todo mundo acredita,onipotente,onisciente e onipresente,ele sabe que eu tenho dado o melhor de mim,que é muito pouco por sinal.Meus textos viraram reflexos dos frangalhos em que transformei minha vida.Viraram reflexo das decepções e mágoas acumuladas.Se meu blog fosse um caderno e espremessem esse caderno,só sairiam lágrimas.E essas formariam um rio negro.Negro pelas desilusões e pela antipatia com a qual a vida me sorri.Nestes dias tenho me reconhecido falho,inseguro,vazio e ignorante e por quê?Eu batalhei tanto pra chegar nisso?É só isso?Até onde eu vou conseguir chegar com tantas falhas?Eu preciso de tratamento e não tenho forças para buscar por elas.As pessoas nascem e vão crescendo,amadurecendo,namoram na adolescência,saem,se divertem e o que eu tenho feito?Nada disso.Eu me tornei algo à parte.Um ser à parte.Eu gostaria de dizer que,daqui pra frente,vou mudar,tentar ser melhor,mas não consigo.Sou fraco demais.Eu nem sei como consigui conquistar algumas coisas na minha vida.O suor de todas as batalhas passadas já secaram em minha testa e não há sequer uma fagulha de vitória.Só em enxergo escuridão.Escuridão no violão que eu não sei tocar,escuridão na luz do meu quarto que apaga sozinha,escuridão na minha internet instável,escuridão no meu potencial que é enorme e eu não consigo usá-lo ao máximo.Não tenho conseguido pelo menos.A lei de que o mais forte sobrevive funciona muito bem no dia-a-dia e eu sou o fraco.Eu não consigo me adaptar às mudanças,não vejo graça na minha nova rotina,não fico satisfeito se meu colégio é um dos 100 melhores do país,de acordo com o ENEM.Acho tudo raso,pouco e escasso.Sinto sede de vida,de vitória.Aliás,nem isso tem dado tempo de sentir ultimamente.Só sinto sono,tristeza,alegria temporária por poder ouvir Beatles e medo do meu futuro.Muito medo.E é um futuro bem próximo.Eu vejo o meu futuro imitar meu passado.Exatamente o passado que eu tanto queria escquecer.Meu passado miserável,tosco,escroto,fútil.Eu não choro enquanto escrevo palavras tão negativas em relação a mim mesmo,pois minha mente está tão ofuscada e minha visão-do-mundo tão turva que nem minha miséria me agride mais.Já se tornou normal pra mim ser assim.Triste,sozinho e,com o tempo,infantil,fútil,banal,vulgar.Tudo na minha vida parece girar em torno disso no fundo.No fundo,eu não tenho a segurança que aparento ter.No fundo,eu não sou alegre como pareço ser.No fundo,eu não estou nem um pouco satisfeito com as coisas e não sei mudá-las.Flar sobre tudo isso é besteira e eu já o fiz anteriormente,mas não me canso de falar de tudo isso que me faz tão mal.Porque,literalmente,dói respirar o ar que eu respiro(literalmente,devido à sinusite mal-curada).Eu estou ficando mais velho e continuo sendo o mesmo.Corro,corro,corro e quando percebo estou no mesmo lugar.O Eterno Retorno?Nietzsche?Não,é algo menos profundo e mais vulgar que qualquer tese filosófica,é só a intransponibilidade das minhas barreiras psicológicas.Agora chega.Ficar relatando as próprias lástimas indefinidamente só me faz perder mais tempo.Só fica mais tarde e eu só durmo menos,o que é péssimo.Chega por agora.