terça-feira, 29 de setembro de 2009

Bestas de castigo

Das assombrações que vejo,nenhuma me pertence.No meu universo,nada pertence ao meu mundo.Daí que estou sempre deslocado e desvairado com tudo.As bestas azuis que riem da minha patética rotina,acham graça do meu esforço em tentar ser normal.Eu,mesmo com medo de tais criaturas,rio com elas,enquanto tomamos rum imaginário e jogamos pôquer.Meu maior medo é de que um dia,essas bestas,saiam do meu quarto e me persigam por todos os cantos,pra todos os lados que eu vá.Vou ser chamado de doudo,insano,por ver demônios,em todos os lugares.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Medo do esquecimento

Eu acho que a gente tá perdendo tempo com tanta coisa inútil.Eu acho que falta sentimento e emoção em tudo que a gente faz.Falta alegria e amor nos nossos caminhos.Falta compreensão e paz,de quem nos rodeia.Aí,sobra a solidão e uma angústia do tamanho da BR-101.Às vezes,a gente chora e quer que nos ouçam,em outras a gente grita e espera que todos se calem ,somente.Por vezes,quero subir num palco,transformar minha vida em peça e esperar que todos assistam e aplaudam,emocionados,no final.Sabe o que é isso?Carência.Isso é excessivo anseio por atenção por parte dos outros.Eu quero atenção,eu quero que os holofotes estejam em mim,mas não a ponto de me constranger,não quero ser celebridade ou coisa do tipo.Eu só quero ser importante para quem me conhece,conheceu ou ainda vai conhecer.Eu quero tirar da minha mente,essa impressão de que todo mundo vai esquecer de mim,dentro de um certo espaço de tempo.A de que eu vou servir,simplesmente,para ilustrar um passado muito distante de muitas pessoas.Vou ficar que nem aquele livro que fica no final da prateleira na última estante do porão,cheio de poeira e cheio de...esquecimento.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Amigo

"Acabou o chá,cara",eu disse."Puta que pariu,logo o meu chá de frutas silvestres?",ele respondeu.Aí,a gente ficou com cara de idiota.Dois marmanjos numa cozinha,perplexos frente à falta de "chá de frutas silvestres"."Será que a gente tá virando viado?",pensei.E mesmo sem eu ter dito nada,ele olhou pra minha cara como se tivesse lido minha reflexão e numa expressão fulminante,ele parecia dizer:"Claro que não."E se virou para o outro armário,pegando o filtro pra fazer café."Essa cafeteira também é uma merda,né?"E eu retruquei:"Não,só faz café um pouco fraco,o que nem sempre é ruim.Nem todo café é o Expresso da Starbucks,cara.Aceite isso".Nós éramos amigos desde a pré-adolescência e acontece que agora estávamos ambos na mesma universidade,no mesmo Campus e decidimos morar juntos,porque morávamos longe da universidade.O problema é que a nossa amizade ia se esvaindo aos poucos.Já não concordávamos mais em quase nada,diferente de antes,não saíamos com as mesmas pessoas,nem pras mesmas festas e irritávamo-nos mutuamente com as excentricidades do outro.Tava ficando cansativo demais."Cara,vamos dar um tempo?Quer dizer,ficou estranho isso,é...tipo,a gente fica um tempo morando separados até a gente voltar a se dar bem.Que tal?"Aí ele ficou num silêncio,que durou uns 30 segundos ou mais e perguntou:"Tá,mas pra onde eu vou?"."Ah,aluga algo aqui perto"."Mas é muito caro e a gente tá morando junto também pra aliviar o preço do aluguel"."Então tá,a gente empurra com a barriga até onde der,então"."Por mim..."E ficou por isso mesmo.E voltando ao dilema anterior,como se nada tivesse acontecido,ele disse:"Já que falou na Starbucks,eu dou um pulo no Shopping e passo lá pra fazer um lanche também,vamos?"."Claro,eu disse".Acho que vamos voltar a ser amigos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sobre a falta da falta de todos

Eu hoje acordei de súbito.Suado,corado,assutado.Sonhei com a morte de todo mundo que eu conhecia,de todos que penso admirar e amar e o pior de tudo: não senti falta de ninguém.Ficou evidenciado o meu isolamento mental e a minha indiferença para com tudo e,principalmente,todos à minha volta.No sonho,sentia saudade de muitas dessas pessoas.Uma saudade grande mesmo.Mas percebi que a saudade já me é um sentimento comum,fácil de ser driblado e aceito.Imerso em solidão,descobri-me inclusive mais forte,mais livre e mais feliz.Eu poderia ser o que quisesse ser,não teria obrigação de parecer "isso ou aquilo" para ninguém.A sensação de liberdade me deu um ânimo incrível.Sentia uma felicidade indescritível e toda a minha vida se passou assim:sem os que eu conhecera um dia e sem fazer questão de criar grandes laços com novas pessoas.E,na hora em que eu ia morrer,acordei de súbito.Suado,corado,assustado.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Para Luísa

Aquele vaso de plantas...e o copo de Coca-Cola que ficou em cima da pia...e você foi embora naquele dia.Sinto saudades,sei.Gostava do jeito como você fazia massagem e de quando você tentava me convencer que Bowie era o cada mais fodão que já existiu.Depois que você foi embora,até a Lily,nossa gatinha,morreu.Encontrei-a moribunda perto da caixinha de areia.As plantas murcharam porque eu sempre esqueço de regar.Este lugar perdeu a vida,parou de fazer sol e agora só chove,que nem naquele livro do García Marquez que você me emprestou.Agora vou ao teatro sozinho e já não tem graça.Agora,só leio best-sellers escrotos e repetitivos,pra ter sobre o que conversar com as outras pessoas,porque quando você tava aqui eu não precisava de mais ninguém,você sabe.Aceita esta carta,pára de ser babaca e volta pra casa,que tem um amigo que precisa de você!