sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ciao, mondo!

"E sobre que alicerces construímos nossas vidas?", ele dizia durante um discurso político para quase 70 pessoas. "Parece que já não há mais como construir uma vida bem planejada e estruturada nesse país, pois cada um de nós tem a CERTEZA de que somos apenas dados manipulados nesse joguinho PODRE dos poderosos", e a plateia crescia..."Como o pai pobre vai dizer para o seu filho que ele vai ter um futuro se nem o próprio pai tem a garantia do emprego no próximo dia, semana ou mês...Chegou a hora de dizer basta!", desceu do palanque, suado e com as mãos trêmulas devido ao enérgico discurso que tinha feito. Ele sabia com quem estava comprando briga e que as, aproximadamente, 300 pessoas que estavam presentes ao final do discurso nunca mais esqueceriam o que tinham escutado. Mas ele não se importava em comprar a briga com os poderosos, com os ricos, com os latifundiários e empresários do país, ele realmente queria mudar a nação e extirpar toda a sujeira e corrupção que havia nos bastidores de quem detinha controle da máquina pública. Ele vai salvar a nação!
Na verdade, estava muito enganado. As 300 pessoas presentes naquele dia (além de, provavelmente terem esquecido do que ouviram no discurso) não significavam nada diante dos milhões de espectadores da extensa propaganda política dos partidos mais poderosos e o seu partido, a princípio, totalmente de esquerda, ficava cada vez mais "de direita" pra conquistar mais espaço e ter mais chance de vitória mas, ainda assim, ele não tinha sequer 40 segundos pra falar no horário político.
Passaram-se cerca de 20 anos e ele, já careca e barrigudo, tinha outro discurso, aquele desiludido que prega que não há como fazer política no país sem sujar as mãos e se misturar às laranjas podres (que, para ele, ocupavam 99% do governo). Mudou de partido, mudou de foco de luta, mudou de terno, ganhou mais tempo, foi eleito prefeito de uma das principais metrópoles do país. E, chegando no poder, não lhe saía da cabeça a ideia de mandar todas as coligações à puta que pariu e fazer projetos de alto investimento com cunho social. Mas lembrava que sem as coligações nada se movimentava. Mas lembrava que, mesmo eleito, ele era uma marionete dos líderes do seu partido e dos partidos "amigos". Toda vez que lembrava da sua falta de poder, mesmo tendo um cargo político importantíssimo, ficava com extrema raiva, o que começou a prejudicar sua vida pública.
Seus ataques de fúria eram constantes, com os olhos vermelhos mergulhados no uísque importado, xingava a mulher, as filhas e até colegas de partido. A mulher pediu divórcio e, das duas filhas, uma se afastou completamente dele. Tudo isso só piorava a imagem que a população e outros políticos tinham dele. Ele já não conseguia sair na rua, devido aos ataques de fúria, só que dessa vez, advindos da população indignada com o ex-militante de esquerda (visto com ótimos olhos por todos, uma personalidade íntegra, como raramente se vê na política) que havia se tornado mais um. "Você é só mais um, seu cretino, é igual a eles"..."Filha da puta, cadê a cesta básica que você prometeu na campanha, meus filhos estão quase morrendo de fome"..."E eu achava que você era diferente...ladrão!"...e as frases ecoavam em sua mente, não paravam de vir, uma após a outra, como socos bem dados na costela ou na boca do estômago que costumava receber dos colegas de turma em sua adolescência. Até sua adolescência de exclusão social e extrema timidez voltavam à sua mente agora, nada mais importava para ele.
Para fechar sua vida com chave de ouro e deixar bem claro pra si próprio como havia se tornado covarde, impotente, burro, estúpido...pegou o revólver que tinha na gaveta de sua escrivaninha e deu dois tiros na cabeça (foi o que deu tempo, se pudesse atiraria até acabar com as balas, mesmo que isso não fizesse o menor sentido), o sangue jorrava farto de seu ex-cérebro enquanto seu corpo vazio de humanidade ia ao chão. Apesar de seu suicídio ter sido considerado um ato de quem não conseguiu conviver com a própria culpa de ter se deixado levar (algo nobre e heróico como tentam fazer na mídia com todo mundo que já morreu), nunca se perdoou de onde quer que sua consciência esteja gritando.

2 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

A vida é passar por tudo isso, é o mais normal, todos ficam barrigudos e carecas, por muito que não pareça ao princípio. É o destino humano, não é drama. bfds

nádia c. disse...

oi black, esse é meu novo blog, se der muda o link do meu blog antigo que tem na lista do seus blogs. ;*