sexta-feira, 8 de maio de 2009

Misto-Quente

Hoje terminei o Misto-Quente do Bukowski.Eu queria tanto acabar o livro,porque achava que haviam coisas mais interessadas a se descobrir em Literatura.E acabei.O livro me acompanhava desde o final de Janeiro/início de Fevereiro.É bastante tempo.Muito tempo para um livro de bolso de 316 páginas,eu sei.Eu sou lento pra ler.Ainda mais quando o livro parece um martírio e me atira contra uma realidade feia,rude,vulgar e cruel,que eu prefiro esquecer,para o meu próprio bem.Em um período da minha vida,eu primava pelo realismo,por essa crueza e visceralidade nos detalhes.Ano passado,quando a minha própria realidade parecia dura demais,entreguei-me a Clarice,pássaros,sonhos e beleza.Ao ler Misto-Quente,confrontou-me um mundo de paus-duros,bocetas,saias levantadas,punheta,álcool e uma desolação infinita e que ninguém consegue resolver.O livro se passa numa época que realmente deve ter sido péssima para quem morava nos Estados Unidos.O livro se passa no período da Grande Depressão americana(iniciada em 1929,com o "crash" da bolsa de valores)e acaba com o ataque a Pearl Harbor(ou melhor,Segunda Guerra Mundial).Resumindo,um período de merda.Que relata a vida de pessoas merdas.Com realizações medíocres em vida,com sonhos de voos rasos,com reflexões enojantes e tristes.E,claro,mais do que qualquer outro personagem que apareça no livro,o protagonista é complicadíssimo.É um escroto,um verme da sociedade,um verdadeiro filho-da-puta,assim como seu pai antes dele.Henry Chinaski tem nojo da maioria das pessoas(se não de todas),mais especificamente,de seu estilo-de-vida extremamente correto e essa busca vã pelo sonho americano.Até aí,tudo bem,vários adolescentes podem odiar isso.A questão é que o protagonista critica,cospe e escarra em cima de toda essa pregação do "American Way Of Life" mas não propões soluções,nem mesmo pra sua própria vida.Então entrega-se a uma corrida auto-destrutiva regada a muito álcool.Muito álcool.Acho que ainda parece pouco,eu disse muito álcool,muito mesmo.Coisa de 20 a 25 copos por noite.Seja de uísque,cerveja,vinho caro ou barato ou o quê mais aparecer na sua frente,que contenha álcool etílico.Ele gosta de mulheres.Mas não consegue se relacionar com nenhuma.Em sua infância,ele até teve algo com uma vizinha mas não passou disso.Daí pra frente,foi só masturbação.Era louco por pernas,bundas,cabelos,seios e essas coisas que atraem todos os homens.Só que sentia nojo das mulheres.Acho que por se entregarem a caras tão idiotas,por motivos tão idiotas(assim como eu já pensei um dia).As mais bonitas e mais gostosas ficam com os mais ricos e mais bonitos.Ele era pobre e feio.Muito pobre e muito feio.Ele tinha um grande problema com espinhas,que não paravam de pular de sua pele e por todo o corpo.Ele até foi a um hospital especial para tentar a cura para seu problema de pele,em vão.Só causou mais sofrimento,devido às agulhas usadas no "tratamento".Por falar em sofrimento físico,isso era normal pra ele.Seja apanhando desde muito cedo do seu pai ou devido às constantes brigas.Apanhar virou parte de sua vida,assim como músicas e filmes fazem parte de nossa vida.Ah,ele também escrevia.Ganhou uma máquina de escrever e começou a produzir.Engraçado,um dos "amigos" dele gostava de falar sobre os textos que escrevia e comentava com Chinaski sobre eles.E também fazia comentários em cima dos textos de Chinaski,coisa da qual ele não gostava.Achei isso interessante,porque é uma coisa que ninguém faz hoje.Não no Brasil,não nessa fração de lugar onde eu vivo,pelo menos.Mesmo conversando com pessoas da minha idade que escrevem(bem,inclusive) e gostam de ler e de escrever,ninguém gosta de falar sobre seus textos.Talvez a idade,talvez a timidez decorrente da idade,talvez vergonha,talvez por que não seja normal escrever bem na nossa sociedade.E gostar de escrever é algo estranho.Gostar de ler já é algo um pouco estranho.Minha realidade talvez não seja tão distante de realidade de Henry Chinaski,acho que estou rodeado por pessoas tão medíocres quanto as do livro.Infelizmente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que a dificuldade que as pessoas tem para falar sobre seus textos está relacionada com o fato delas acharem que não escrevem "grandes coisa".