domingo, 31 de maio de 2009

O Buço

Sim,ela tinha buço.E como tinha!Nada a incomodava mais do que olhar-se no espelho.E por quê?Devido àquele maldito buço.Porque não havia Gilette no mundo que desse jeito e não havia um homem no mundo que não a olhasse de modo estranho.O buço era maior que ela,havia tomado conta de sua personalidade.A menina antes tão extrovertida,na adolescência ficou "chata,preocupante para a família".Nas festas de família,ela ouvia zuações de seus primos:"Isso aí só pode ser traveco".E os tios sempre a perguntar:"Por que ela fica tão quieta e isolada?Por que não sai com os outros jovens?Será que ela tem problemas psicológicos?"Apesar de tanta "preocupação",ninguém se movia.Nada era feito,os anos se passavam e a melancolia e introspecção aprofundavam-se.Ela,que antes de realmente feio só tinha o buço,agora era gorda e tinha olheiras profundas,como sua tristeza.As olheiras estavam lá,porque já não consegui dormir devido a seus pesadelos com repreensões alheias e agressões físicas,por ser considerada uma aberração da natureza.E até seus pais estavam cada vez mais distantes,já não ligavam."Ninguém nunca ligou",ela pensava.O seu medo da hostilidade alheia só crescia e ela pensava em se matar,mas tinha preguiça e se condenava por isso também.Até que chegou o dia em que ela completou 18 anos e já não ia mais à escola porque não queria ser vista e,agora,realmente não falava mais com ninguém.A não ser seu gato,Félix("nome clichê",ela pensava).Ela reprovava tudo em si mesma,até sua tristeza era vulgar e infundada já que os outros não tinha nada a ver com sua vida.Não fazia sentido pra ela se importar tanto com a opinião alheia,mas acabava acontecendo.Cansada de ter que conviver com os outros a sua volta,decidiu mudar-se para o sótão.Havia um baú vazio lá e parecia ser quentinho e confortável.Em dois dias,mudara-se para o sótão,sem uma repreensão sequer de seus pais,ou a preocupação de sua avó,talvez a única a realmente querer cuidar dela,e que já estava morta.

2 comentários:

Anônimo disse...

"O seu medo da hostilidade alheia só crescia e ela pensava em se matar,mas tinha preguiça e se condenava por isso também." - Isso lembra minha sétima série.


"Ela reprovava tudo em si mesma,até sua tristeza era vulgar e infundada " - Não queria ter me identificado com isso.

Anônimo disse...

"O seu medo da hostilidade alheia só crescia e ela pensava em se matar,mas tinha preguiça e se condenava por isso também." - Isso lembra minha sexta, sétima e oitava séries