quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Eu sinto culpa.Uma culpa imensa e sobre a qual eu nada sei.Eu não sei como nem por que cheguei a ela.Talvez seja culpa por não ter aproveitado a vida tanto quanto podia.Talvez culpa por ter abandonado aqueles que sempre estiveram do meu lado.Ou podia ser simplesmente culpa.É possível ter culpa assim?A culpa pela culpa?Isso existe?Acho que existe e tenho quase certeza de que é isso que estou sentido agora.Eu olho para a casa vazia e observo as paredes brancas e lembro do esforço que foi construí-la.Quantas pessoas já passaram por aqui?Quantos almoços em família e quantas festas se passaram aqui?Agora a casa permanece vazia.A única coisa que preenche os espaços da casa é a minha melancolia.E,claro,a minha culpa.Todas as pessoas que me juraram amor e lealdade,eu fiz com que se afastassem de mim,lentamente.Não foi proposital é claro.Só um monstro faria isso de propósito.Existiam três personagens principais na minha vida:Glória(minha ex-esposa),Luísa(minha ex-filha) e Alberto(meu ex-melhor amigo).Vou contar como cada um se afastou de mim:

GLÓRIA
Como o nome já diz,era isso que ela representava em minha vida.Era a glória dos meus dias,era o símbolo de minha vitória contra o meu maior medo,o de amar incondicionalmente.Ela me dava tudo que eu precisava:paz,carinho,paciência,atenção e amor.Mesmo que eu não saiba definir precisamente o que é o amor,eu tenho certeza de que era o que acontecia entre nós.O problema é que,junto com o meu amor incondicional,veio um certo desequilíbrio.Eu,antes tão sóbrio,fui tomado pela constante tendência ao exagero.Tive ciúme exagerado.Ela já não me aguentava mais.E eu percebia,cada vez mais,que meu ciúme tinha superado o amor que sentia por ela,então precisava alimentar tudo aquilo,pois era como se fosse meu único vínculo forte com ela.Nem as nossas noites de prazer me satisfaziam mais,só o ciúme.O ápice de minha ira foi quando um amigo de trabalho disse-me que vira a minha mulher num restaurante com outro.Sim,eu sabia que ela sempre almoçava com um antigo colega de trabalho seu em todos os dias úteis.Mas o fato de que alguém de fora da relação estivesse suspeitando uma possível traição,fez com que eu me irritasse completamente.Eu andava pelos corredores do meu serviço imaginando quantos já não me chamavam de "corno".Eu já não falava mais com ela em casa.E um dia ao sair mais cedo do trabalho,passei no restaurante só para ver se os dois estavam devidamente comportados mas ao ver que o colega dela possuía agora mais intimidade com minha esposa do que eu mesmo,despertou algo em mim desumano,primitivo e vulgar.Eu agredi o homem até o ponto em que me vi sem forças para levantar o braço.Encontrei-me cego e observado pelas pessoas como um animal e foi aí que senti extrema vergonha.Passei uma noite na cadeia mas consegui que meu melhor amigo pagasse a fiança pra eu sair.Ela,obviamente,já não mais olhava para a minha cara e pediu o divórcio imediatamente após meu ato de agressividade.

LUÍSA
Digo ex-filha,pois foram as palavras das quais ela mesma se utilizou ao se referir a mim como ex-pai.Entendam,meu ciúme não se resumia às amizades da minha esposa,mas se estendia aos namorados da minha filha.Agredi um deles,meses depois do ato com o colega de minha ex-esposa.Nesse ponto,eu já não tinha mais solução.Alcoólatra,triste e fútil.A cada mês,meu cargo na empresa caía mais,meus amigos se distanciavam e com minha filha não foi igual.Realmente,é um absurdo da parte dela não tentar ajudar o próprio pai quando ele mais precisava,mas ela não estava totalmente errada.Meu vício atrapalhava a vida dela.A vida amorosa(como já expliquei anteriormente) e a vida profissional,pois eu aparecia em estado deplorável no escritório dela,humilhando-a e forçando-a a sair sempre mais cedo do trabalho por isso.

ALBERTO
A pessoa que me aturou por mais tempo.O único amigo sincero e só fui descobrir isso tão tarde.Ele foi quem me ajudou a entrar numa clínica de reabilitação.O problema é que eu não me preocupei com ele como ele se preocupou comigo e descobri que o estresse dele ao me ajudar foi tão grande que acabou adquirindo depressão e a família dele nunca mais deixou que ele falasse comigo.

Hoje estou reablitado e bem mais equilibrado.Só não tenho ninguém.Eu tento entrar em contato com meus familiares mas ninguém me recebe.O que sobrou da minha antiga vida foi apenas esta casa e um cargo na minha empresa(bem baixo).


OBS.:Só pra escrever.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Hoje(1)

Hoje(na verdade,ontem,considerando que já sã quase 2 da manhã) foi um dia legal.Eu fiz uma coisa que eu não imaginava que fosse fazer.Realmente não.Eu li Álvares de Azevedo.Há quanto tempo eu não lia tanta coisa dele?Desde a época em que eu me achava gótico?Eu não sei.Só sei que,ao ficar sozinho num shopping(no Plaza,pra ser exato),não há muito para se fazer.Então,o que eu fiz?Fui para a Siciliano,peguei o Noite na Taverna do meu querido parente Manuel Antônio(mais conhecido como Álvares de Azevedo e eu sou Felipe Azevedo) e comecei a ler.Eu tinha mais ou menos uma hora sem nada pra fazer e pensei:"Nem vou me empolgar com esse livro."Mas nem sei se é necessário ter empolgação para se ler um livro.Enfim,em uma hora(devagar como eu sou)acabei lendo as 56 páginas primeiras do livro,que contém 88 páginas.Faltava tão pouco que resolvi comprar o livro e devo terminar de ler pela manhã.Mas enfim,a experiência foi ótima.Eu descobi o quanto é bom ficar lendo por um longo espaço de tempo,o quanto isso exige concentração da minha parte(ainda mais em uma livraria na qual toda hora crianças apertam botões legais nos livrinhos,que fazem barulho e os funcionários vivem a deixar livros caírem,descobri isso hoje).E como é bom poder dar a continuidade devida a um livro e não lê-lo de maneira extremamente fragmentada e,logo,arrastada como eu tenho feito com o Siddharta.Outro problema é que eu tenho permitido uma certa dose de indisciplina voltar à minha vida,por mera fraqueza,o que é péssimo.Então,como leio livros antes de dormir,quando me sento na cama pra começar a ler,já bem tarde,estou cansadíssimo e consigo ler,no máximo 5 páginas,o que já é muito.Minha vida tem sido assim como os livros que eu leio:arrastada,aos poucos,fragmentada.Eu já não sei sentir as coisas direito.Certas músicas estão voltando a me tocar,certo tipo de literatura está voltando a me tocar,eu estou voltando aos poucos.Antes da viagem para a Bahia,minha mente estava no estágio perfeito pra fazer desse início de ano um maravilhoso recomeço.Mas a Bahia,e tudo que envolve estar lá,no meu caso,fez as coisas desandarem.Eu estou ainda fora de ordem.Preciso ser reprogramado porque tá realmente difícil.Os dias passam e eu não consigo entender nenhum deles.Tudo tem sido confuso e diferente.A questão de morar a,aproximadamente,uma hora da escola é estranha.Pois antes eu estudava a 15 minutos da minha escola e tudo parecia casa.Tive algum problema?É só pegar um ônibus e rapidinho estava em casa.O dia foi extremamente cansativo?Em pouco tempo eu estaria em casa dormindo,relaxando,descansando para poder estudar,logo em seguida.A minha vida e a minha personalidade estão um pouco acima da minha atual compreensão e isso é um problema.O que eu tenho que fazer agora é aproveitar bem esse feriado.Pra descansar,pra dormir,pra relaxar,pra me reacostumar com tudo isso aqui,pois parece que não tive tempo de voltar até mim ainda.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

E volta aquela temática de extremo pessimismo e de uma rabugentice quase inexplicável.Sim,a vida é de um desespero sem fim.Quando imagina-se ter paz e estar acolhido,volta a luta contra o nada,contra aquela parte da sua personalidade que você odeia.E,por mais que as pessoas à volta influenciem,é sempre uma briga contra você mesmo,não tem jeito.Eu sei disso e até o Thom Yorke sabe disso(vide Climbing Up The Walls),aquela parte da sua personalidade que você odeia sempre volta.Porque,em essência,você é aquilo.Se você relaxar,der mole,pronto,você volta a ser aquilo.Como no refrão:
"Either way you turn,I'll be there
Open up your skull,I'll be there
Climbing up the walls"
Essa minha personalidade sempre dá um jeito de voltar,não importa se eu escondo meu passado em um armário ou em estantes pras quais eu nunca olho.Também não adianta esquecer os antigos "amigos" e colegas.É verdade,eles nunca ajudaram mas a briga é interna,e quando se vence essa batalha interna,pronto.Mas a vitória tem a curta duração de um ano(um pouco mais ou um pouco menos).Para mostrar como Thom Yorke é cara safo:
"I am the key to the lock in your house,that keeps your toys in the basement.
And if you get to far inside,you'll only see my reflection.
It's always best when the light is off.I am the pick in the ice.
Do not cry out or hit the alarm.You know we're friends til' we die."
Vou ter que repetir essa parte:"Do not cry out or hit the alarm.You know we're friends til' we die"Muitíssimo bem colocada aqui.Não adianta querer gritar,reagir,mostrar pras outras pessoas como você se sente,a situação só piora e no ápice do seu vale de lágrimas,um insight maldito acaba te mostrando que esse sentimento e esse desamparo já vêm te acompanhando faz tempo e isso não parece que vai mudar.
Eu dou graças(à Deus?)pelo fato de que o Thom Yorke usa a temática em um cd e depois que a obra está feita,simplesmente se desvencilha dela.Se ele fosse se aprofundar na temática do Ok Computer,ele acabaria como o Kurt Cobain,por exemplo.O Thom tinha muito potencial pra ser o próximo drogado,suicida do rock,só que não quis a vaga(bom pra nós) e o Radiohead continua fazendo ótimos álbuns por aí.Eu falei no Kurt,porque tenho ouvido falar bastante nele,devido a um fanático lá da escola.Lá tem até um garoto com um All-Star personalizado do Kurt(que foi 140 reais),com letras de músicas do Nirvana.Hoje eu até vi uns clipes do Nirvana.E a banda ainda me faz sentir estranho.Acho que é por causa da intimidade de antes.O Nirvana ganhou todo um significado macabro pra mim,porque não dá pra ouvir a banda,sem lembrar do Kurt Cobain e quando eu penso nele,penso em quanto ele foi idiota em se matar e tudo mais.Digo,não somente,o suicídio imediato mas o que vinha acontecendo indireta e lentamente com o uso de drogas.Fico muito triste tanto com ele quanto com o Ian Curtis,mas ainda dá pra ouvir Joy Division melhor,porque é genial demais pra não se ouvir.As letras,a atmosfera criada,tudo.Ainda mais tendo as Peel Sessions do Joy Division,o cd com músicas do Warsaw e a coletânea Still.Só porque eu não gosto muito do Closer.
Abaixo segue a letra completa de Climbing Up The Walls do Radiohead:
I am the key to the lock in your house
That keeps your toys in the basement
And if you get too far inside
You'll only see my reflection
It's always best when the light is off
I am the pick in the ice
Do not cry out or hit the alarm
You know we're friends till we die
And either way you turn, I'll be there
Open up your skull, I'll be there
Climbing up the walls
It's always best when the light is off
It's always better on the outside
Fifteen blows to the back of your head
Fifteen blows to your mind
So lock the kids up safe tonight
Put the eyes in the cupboard
I've got the smell of a local man
Who's got the loneliest feeling
That either way you turn, I'll be there
Open up your skull and I'll be there
Climbing up the walls
Climbing up the walls

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Cachorros

Como pode haver tanta beleza e tranquilidade em um ser?Como há tanta perfeição em um só ser?Ao mesmo tempo que nos fazem companhia,carinho,sabem ouvir e nos animar,protegem a nossa casa.Mesmo sem treino,eles estão ali por nós,assim como estamos ali por eles.Enquanto a muitos seres humanos,nem vem à cabeça a idéia de retribuir favores(por uma simples questão de cordialidade e educação),os cães estão sempre lá.Latindo quando há algum movimento diferente nos arredores,pulando na gente quando chegamos em casa,mesmo quando estamos tão tristes a ponto de nem dar bola pra eles(coisa que eu já não consigo mais fazer de uns tempos pra cá).Impressionante ver que eles parecem ser o extremo oposto de alguns de seus donos,que sentem como se estivessem carregando o peso do mundo nas costas.Eles estão lá simplesmente sendo.Com aquela aparente leveza,aquela expressão de que tudo passa.Mas ainda existem os que mudam de humor junto com o dono.E ficam cabisbaixos quando sabem ter feito alguma besteira.E eu tenho certeza que nós somos muito mais "cachorros" que eles.Pois eles são dóceis,amáveis,companheiros,amigos de verdade e,principalmente no caso da minha cadela,extremamente resignados.Também há os que,por vezes,traem um pouco a nossa excessiva confiança,ficando mais agressivos,mas nada que um ser humano não faça(lembrando que há casos extremos de agressividade também principalmente como algumas raças feitas em "laboratório" para briga,como pitbulls,mas também tem gente assim).Venho expressar tudo isso em virtude do ápice de imobilidade da minha cadela.Antes ela já demonstrava dificuldades pra andar e subir a íngreme escada até seu canil.E nada.Meu pai sugeria construir o canil mais pra parte da frente do quintal,para que não houvesse muito esforço da parte dela.Mas agora já foi.Ela está tendo de se arrastar e nem sequer consegue sair de cima das fezes que faz.Tá muito complicada a situação.Eu já não sei por quanto tempo mais vou poder vê-la,acariciá-la,ficar babando por ela que nem um idiota e ficar dizendo o quanto ela é linda e comunicativa e meiga e perfeita.Eu já não sei mais.Talvez haja necessidade de sacrificá-la.Amanhã a gente vai viajar e só voltaremos no Domingo.Não sabemos se ela vai conseguir passar esses dias sozinha,apesar de termos deixado água e comida suficientes,mais que suficientes até.Ela ainda consegue se arrastar pelo canil.Sim,se arrastar,porque a perna dela parece ter perdido todo o movimento.Eu estou com medo de voltar pra casa no Domingo ou na Segunda-feira e ter de me perguntar depois desses dias:cadê ela?Cadê ela pra ficar pertubando,latindo,cheia de pressa pra comer toda vez que a gente vai colocar a ração?Cadê ela pra ser ela e deixar a gente mais feliz?Mesmo com todos os problemas e gastos que temos tido com ela,vê-la por aqui dá-nos uma felicidade inexplicável.Era tão legal,descer as escadas,completamente preocupado com coisas da escola e problemas de casa e encontrá-la pedindo carinho,deitando de barriga pra cima,chamando a gente com a pata.Eu não sei mas,considerando uma visão espírita(kardecista)da vida após a morte,não é de se duvidar que ela poderia vir como ser humano na próxima encarnação porque parece faltar tão pouco pra ela falar e conversar com a gente.Ela fala com os olhos,às vezes,sabe?E fazendo uns barulhos estranhos lá,que é das coisas que eu mais gosto de escutar.Mas ela nem tem feito os barulhos e parece meio triste por não poder sair muito do mesmo lugar.E como deve ser ter de se arrastar?E quanta dor deve sentir ao se arrastar?Sendo ela tão "pouco-cadela,quase humana",eu não sei o quanto isso a incomoda.Parece incomodar muito pela aparente inexpressividade com que ela foi tomada nos últimos dias.De acordo com o veterinário,teríamos que fazer uma radiografia nela,que fica longe daqui.Fica lá em Icaraí(pra quem sabe onde fica).E teríamos que achar uma maneira de transportá-la e ela não é nem um pouco leve também,um dos motivos pelo qual há essa debilitação na movimentação dela.Eu não sei.Eu não sei como a gente vai fazer.Se a gente vai pegar outro cachorro,pra não deixar o Beethoven sozinho aqui.Alguém pra que ele possa cruzar e ter filhos antes de morrer,não sei.Mas adquirir outro cão,sabendo que eles podem ir bem antes da gente,é complicado,pelo menos pra mim.Meu pai está em Frankfurt agora e eu falei da situação pra ele pelo telefone.Ele parece ter ficado um pouco desequilibrado,quase contendo choro,como eu tenho tido de conter a cada notícia ruim que minha mãe dá sobre ela.Espero poder voltar da Bahia,aquela terra infernalmente quente,pra uma cerimônia que eu nem quero ir,pois vou ter de perder aulas na nova escola e acho muito mais útil,assistir aulas do que ir numa cerimônia de formatura mas já que as pessoas ao meu redor são...ok,quase animais(por falta de palavra melhor),não há amparo para minha situação e eu sou obrigado a ir.Perder aulas e ficar longe da Tiara,estando ela nesse estado,só pra satisfazer caprichos da minha prima-irmã(que eu realmente gosto e considero como irmã,só que ela exagera nessas cerimônias,como na festa de 15 anos,com direito à valsa)parece ser um pouco absurdo.Mas de absurdo há muito na vida.A vida é um absurdo.Essa coisa de ser brasileiro,ter que aguentar a realidade de merda na qual estamos inseridos,lutando uma batalha de merda que eu não entendo e continuar rindo,como os brasileiros fazem é absurdo.Eu não sei o que não é absurdo por aqui.