sexta-feira, 17 de julho de 2009

O carrinho vai,a noitinha cai

O dia estava muito quente,mas ele não ligava.Ele tinha de fazer aquela viagem e isso independia das condições climáticas ou de qualquer outra.Para comprovar isso,relato aqui que ele sentia enorme mal-estar na hora da partida.Mas era a estrada que ele queria.Só ela.Na estrada,ele era livre,sozinho,podia ser ele finalmente."Tudo na estrada faz bem a mim.Desde a sensação de liberdade até a poeira deixada por trás por outros carros à minha frente.A coisa que mais me impressionou na última vez que peguei a estrada,foi o número de pessoas que eu conheci.É sempre bom conhecer pessoas,eu acho.Por mais hostis e fúteis que sejam,é sempre bom descobrir novas pessoas.Surgem novas conversas e eu adoro novidades.Odeio rotina ou qualquer coisa que se possa parecer com isso.Então,apesar das condições adversas(considerando que eu odeio calor e meu carro não tem ar-condicionado),terminei de arrumar as malas e botei o pé na estrada.Eu sempre começava pela orla,observando as praias,as pessoas nas praias,a tranquilidade das pessoas nas praias.Mas só é possível sentir inveja delas.Eu nunca fui muito 'praiano'.Meus pais nunca tiveram o costume de ir à praia e eu peguei esse 'anti-costume'.Hoje minha única praia é o mar de papéis que tenho que organizar no trabalho.São centenas de pedidos que têm de ser enviados até o final do dia.Agora,não sei por que,mas lembrei de minha esposa,que fica extremamente irritada com essas minhas viagens estrada afora.A minha sogra acha que eu tenho uma amante,meu sogro acha que essa é uma forma de eu fazer com que minha mulher se acostume com minha ausência,porque um dia eu vou embora,na imaginação dele.Eu não gosto da família dela e nem eles de mim.Mas eu nem ligo,ela gosta de mim e eu gosto dela.Aí lembro como ela é gostosa e linda e como foi a primeira vez que conversamos.Sinto-me ligeiramente excitado no carro e senti vergonha por isso,novamente sem saber por que.Há muita coisa sobre as quais não sei a explicação.Muita coisa surge em minha mente de maneira involuntária.O que posso fazer é simplesmente tentar lutar contra isso ou me conformar.Eu prefiro me conformar.É o que as pessoas fazem mesmo:se conformam.É todo mundo tão conformado,né?Viu?Mais uma reflexão involuntária.
Depois de 4 horas de viagem,paro num restaurante para jantar decentemente.Existe muita churrascaria em beira de estrada.Nunca vi um restaurante vegetariano ou de comida oriental ou árabe em beira de estrada.Mas é disso que eu gosto:carne.Picanha,Alcatra,Maminha,o que tiver.Quando eu era pequeno,não gostava de Filé Mignon,não lembro o motivo,mas hoje tudo mudou.Hoje,tudo mudou.Essa frase me assustou depois que eu já havia pensado nela.E parei a olhar para o nada.Senti saudade da minha adolescência,dos meus pais(ambos foram mortos num mesmo acidente),dos amigos que perdi.Realmente,tudo mudou.Eu já não me reconheço,nem as outras pessoas me reconhecem.Já não me dou bem com os meus primos,que sempre foram amigões meus.Sentado na mesa de uma churrascaria praticamente vazia de beira-de-estrada,com um prato de picanha mal-passada na minha frente,penso:Em que parte dessa estrada eu me perdi de mim?"

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu juro que queria me achar perdida. Pelo menos de alguma forma me acharia.